sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Abraços Partidos

Almodovar faz em Abraços Partidos uma declaração de amor ao cinema. A trama gira em torno do meio cinematográfico, as personagens principais são um diretor,uma atriz,uma diretora de produção,um aspirante a roteirista,um documentarista amador e um produtor. Seus destinos se cruzam devido a um filme feito 14 anos antes de quando se passa a ação. A metalinguagem é constante por existir até dois filmes dentro de Abraços Partidos; se fala de cinema o tempo todo, e os generos se misturam durante os 120 minutos. Nos primeiros 40 minutos as personagens são apresentadas,as relações são estabelecidas muito concretamente para que o salto no tempo e os diversos níveis de narração não confundam o espectador,entretanto pelo menos tres generos apontam neste começo,deixando quem assiste se perguntando se o que se passa na tela é o "filme dentro do filme" ou não. Nos primeiros minutos trata-se de um drama,para logo em seguida guinar para um suspense,através dos diálogos que despertam a duvida de quem é determinada personagem,o que ela quer ali, e também através da trilha sonora que perfeitamente poderia ter saído de um filme de Hitchcok por seu clímax; para culminar no melodrama um pouco caricato. Estes elementos provocam a duvida e deixam em suspenso o espectador até que o "filme dentro do filme" comece a ser rodado e assim entendemos que teremos ao longo da película vários generos caminhando lado à lado.
Apesar de Almodóvar abusar de suas marcas registradas como cores fortes e grafismo,o resultado é muito mais sóbrio do que seu clima passional latino costumaz. As atuações são mais contidas e a direção aponta para um caminho mais introspectivo do que de grandes arroubos através da história dos personagens e como eles lidam com estas. Não é dado um grande espaço de tempo para que cada ação se desenrole e culmine cada uma num grande clímax explosivo. O tempo é enxuto,seco. O tempo é suspenso,mas rapidamente já se transforma em outra ação,e as consequencias são logos vistas, como se não houvesse tempo para perder.Talvez seja assim que o diretor consiga com que os três generos caminhem juntos. Nos envolvemos na história extraconjulgal da atriz,interpretada por Penélope Cruz, com o diretor, o drama deste relação,ao mesmo tempo existe o suspense do que terá acontecido à ela no tempo presente,uma vez que ela é totalmente ausente neste momento,teria sido assassinada pelo marido?Teria o enteado que filma um documentário sobre os bastidores algo haver na história?E o melodrama que marca o tom do longa, que por mais sóbrio que seja, ainda é um filme de Almodóvar, e ele parece brincar com o genero colocando cenas que a primeira vista parecem fora de lugar,como confissões bastante explicativas, ou revelações seguidas de musica de suspense,que acabam por criar um aspecto até cômico.
As mulheres para variar marcam presença em Abraços Partidos,além da ação girar em torno de Penélope Cruz,outras atrizes do diretor aparecem em pontas. Também vemos Katherine Hepburn na tela de tv, Jeanne Moreau é mencionada por causa de Ascensor para o Cadafalso ( suspense com um triangulo amoroso!), Penélope aparece meio Audrey Hepburn,meio Marlyn.
O grande trunfo do filme são fotografia e edição,impecáveis. Talvez seja o filme estéticamente mais bem cuidado de Almodóvar,com planos belíssimos e muito poéticos, e edição muito cuidadosa que flui a narrativa de forma muito organica, e cria situações. Não é à toa que o ponto de mutação dos personagens se dá por causa da montagem do filme de "mentira". Como a partir de todas as peças do quebra-cabeça montar algo coeso, que honre a história que está sendo contada?
Almodóvar parece querer nos dizer que cinema é imagem em movimento,narrativas,simples assim!