terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Atividade Paranormal

Atividade Paranormal está sendo anunciado como o filme mais assutador dos ultimos tempos muito antes mesmo de seu lançamento. A Paramont investiu pesado em divulgação, Steve Spielberg entrou como produtor executivo neste longa feito com modestos recursos,entretanto o resultado é decepcionante.
Há dez anos atrás entrava em cartaz A Bruxa de Blair, toda a estratégia de marketing foi anunciar na internet, que naquela época não cobria nem um terço dos locais que cobre hoje, e na mídia convencional que tratavam-se de gravações reais,o que se veria no cinema era o testemunho verdadeiro de uma tragédia nos EUA. Três jovens vão acampar e documentam a viagem com cameras amadoras,eles se perdem e coisas muito estranhas acontecem sem que nada apareça de concreto na tela a não ser o medo e barulhos,por fim depois de um dos garotos ter desaparecido,os ultimos dois encontram sua sorte em uma cabana abandonada e a ultima imagem que temos é a da camera caída no chão focalizando uma parede cheia de marcas de mãos de crianças.Foi um sucesso instantâneo e mostrou que uma idéia na cabeça e uma câmera na mão também servem para filmes de terror e que o marketing de guerrilha funciona muito.
Voltemos à 2009 e Atividade Paranormal. O longa parte do mesmo pincípio de A Bruxa de Blair,trata-se de uma história verídica gravada pelo casal vítima em sua casa. Existe apenas uma câmera manipulada pelos atores ou presa a um tripé no quarto. A protagonista é "perseguida" esporadicamente por algum tipo de entidade desde criança,como agora as manifestações voltaram seu namorado resolve comprar uma câmera e registrar tudo o que acontece na casa,principalmente enquanto dormem. Como no longa de dez anos atrás o diretor parte muito da sugestão,não vemos o que a perturba,ouvimos barulhos,a luz acende,a televisão liga,no máximo temos uma sombra que aparece rapidamente,mas ao contrário do precursor falta ritmo e os noventa minutos parecem mais, pois se em A Bruxa existia uma lenda e uma floresta, motes que por si só já assutam e que possibilitam movimentação, aqui temos uma casa que não possibilita muita ação e uma história capenga que em muitos momentos não se sustenta. A maior parte da narrativa se passa à noite enquanto dormem,então o que temos é uma grande angular pegando o quarto inteiro com os dois personagens dormindo e a visão do corredor, derrepente algo se manifesta,mas o timing não é tão certeiro a ponto de sempre nos assustar,às vezes chega a ser previsível e os intervalos são muito longos entre uma ação e outra. Soma-se a tudo isto o fato de hoje em dia com a quantidade de informações que temos acesso ninguém cair no truque de que se trata de uma história real e assim suas possíveis falhas serem encobertas pelo voyerismo macabro. Os ultimos vinte minutos são bem melhores que o filme até então, existe agilidade, a história desenrola melhor, atinge o clímax e vai ficando assustadora, se tivesse mantido o ritmo desde o começo com certeza os espectadores quando voltassem para casa iam pensar duas vezes antes de se deitar.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Britney Murphy

De patinho feio à mulher estonteante,este foi o caminho hollywwodiano de Britney Murphy. Infelizmente com a transformação vei também a mudança de casting e de atriz promissora passou para filmes sem importancia e bobos.
Em Garota Interrompida a atriz não deve nada às duas colegas bem mais famosas e badaladas Winona Ryder e Angelina Jolie. Britney no papel da bulêmica Dayse está perfeita e cria um ponto de tensão para as personagens de Jolie e Ryder. A sequencia em que as duas "amigas" fugitivas do sanatório pedem abrigo à garota recém-reabilitada é o ponto alto do longa. Vemos o ódio de Angelina Jolie,solitária e que tenta ir contra todas as convenções, direcionado à garota que tenta desesperadamente viver o sonho americano da classe média puritana, em sua nova casa,com seus móveis bonitos,sua vida "perfeita" e entre as duas Winona sem muito bem saber para que lado pender. Ela ri de Dayse pela farsa encenada por esta,mas se assusta pela virulencia de Jolie quando esta escancara a encenação,revelando a tragédia da garota bulêmica,vítima de abuso sexual por seu próprio pai. Britney constrói a tragetória da personagem de maneira firme e certeira. Quando está no sanatório,é a garota mimada e irritante,porém com um lado patético que disperta no publico se não a sensação de pena,a percepção de que algo bem errado acontece . Na virada da personagem, a temos em casa,pior,de menina energética e birrenta ela passa a um simulacro de dona de casa norte-americana,alheia á tudo, com um olhar que vaga pelas coisas e pelas pessoas. Nada vai bem e a personagem de Angelina Jolie só vem para acender a faísca que precisava para uma tragédia anunciada.A partir do suicídio de Dayse o filme atinge seu clímax.
Isto foi em 1999, nesta década Britney abandona os quilinhos a mais,torna-se loira,aposenta o lado esquisitona e parte para comédias romanticas bem ruins. Uma pena.
Morta hoje aos 32 anos Murphy tinha talento de sobra para mostrar à Hollywood.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Cavaleiro das Trevas

Post de 01/08/08 do meu outro blog. Estava relendo os escritos e resolvi compartilhar esta resenha nada ortodoxa aqui.

Quando era criança eu gostava de brincadeiras de menino,ou seja carrinhos e bonequinhos de super-heróis,na época a Liga da Justiça era um dos desenhos mais legais que passava na tv,o Batman e o Robin eram os coadjuvantes, o grande star era o super-homem,eu gostava do homem de aço mas não tinha o bonequinho dele em compensação tinha o do homem morcego e garoto prodígio,mas essa dupla era meio chata principalmente o garoto com o seu "macacos me mordam Batman",mas o seus vilões..ah estes eram imbatíveis!!Eu tinha os bonequinhos do Pinguim e do Coringa, adora,achava o máximo aquelas duas figuras estranhas e perversas.Vieram os filmes,não gostei, nem dos Tim Burton,mas amei os vilões.O Coringa de Jack e o Pinguim de De Vitto eram os vilões mais legais de todos os tempos,faziam parte claro do mundo sombrio e expressionista de Burton, havia humor neles,sadismo,mas eram como meus bonequinhos:estranhos,de aspecto diabólico,mas nunca duvidei nem por um segundo que o morcegão os derrotaria!Mas aí veio O CAvaleiro das Trevas...
Eu duvidei por todo o filme que Batman derrotaria o Coringa,nenhum,absolutamente nenhum personagem estava seguro,e quando voce acha que até os good guys podem bater as botas e toda cidade de Gottam pode explodir é se segurar na cadeira, roer as unhas e sentir seu coração bater forte muito forte,e é ótimo!Qulaquer filme de super-herói voce espera que no final tudo aconteça conforme o planejado:o mocinho vai apanhar,a mocinha vai ser raptada pelo vilão,mas no final a cidade é salva, todos ficam bem e a mocinha beija o mocinho no final.Entretanto quando existe um psicótico que nas palavras do sábio Alfred quer ver é mais o circo pegar fogo,não existe regra que possa ser aplicada.Para tentar vence-lo é preciso queimar tudo,é preciso se tornar o anti-herói,é preciso se tornar em certo sentido o proprio Coringa!
Por sinal esse Coringa de Heath Leager me pareceu a versão blockbuster da dupla de Funny Games,tão perverso e anárquico quanto,mas feito dentro da industria Hollywoodiana,ou seja a própria lógica do filme não permite arroubos tão cruéis.
Grande filme,mas me pergunto o que será do próximo Batman sem a sua metade?

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Abraços Partidos

Almodovar faz em Abraços Partidos uma declaração de amor ao cinema. A trama gira em torno do meio cinematográfico, as personagens principais são um diretor,uma atriz,uma diretora de produção,um aspirante a roteirista,um documentarista amador e um produtor. Seus destinos se cruzam devido a um filme feito 14 anos antes de quando se passa a ação. A metalinguagem é constante por existir até dois filmes dentro de Abraços Partidos; se fala de cinema o tempo todo, e os generos se misturam durante os 120 minutos. Nos primeiros 40 minutos as personagens são apresentadas,as relações são estabelecidas muito concretamente para que o salto no tempo e os diversos níveis de narração não confundam o espectador,entretanto pelo menos tres generos apontam neste começo,deixando quem assiste se perguntando se o que se passa na tela é o "filme dentro do filme" ou não. Nos primeiros minutos trata-se de um drama,para logo em seguida guinar para um suspense,através dos diálogos que despertam a duvida de quem é determinada personagem,o que ela quer ali, e também através da trilha sonora que perfeitamente poderia ter saído de um filme de Hitchcok por seu clímax; para culminar no melodrama um pouco caricato. Estes elementos provocam a duvida e deixam em suspenso o espectador até que o "filme dentro do filme" comece a ser rodado e assim entendemos que teremos ao longo da película vários generos caminhando lado à lado.
Apesar de Almodóvar abusar de suas marcas registradas como cores fortes e grafismo,o resultado é muito mais sóbrio do que seu clima passional latino costumaz. As atuações são mais contidas e a direção aponta para um caminho mais introspectivo do que de grandes arroubos através da história dos personagens e como eles lidam com estas. Não é dado um grande espaço de tempo para que cada ação se desenrole e culmine cada uma num grande clímax explosivo. O tempo é enxuto,seco. O tempo é suspenso,mas rapidamente já se transforma em outra ação,e as consequencias são logos vistas, como se não houvesse tempo para perder.Talvez seja assim que o diretor consiga com que os três generos caminhem juntos. Nos envolvemos na história extraconjulgal da atriz,interpretada por Penélope Cruz, com o diretor, o drama deste relação,ao mesmo tempo existe o suspense do que terá acontecido à ela no tempo presente,uma vez que ela é totalmente ausente neste momento,teria sido assassinada pelo marido?Teria o enteado que filma um documentário sobre os bastidores algo haver na história?E o melodrama que marca o tom do longa, que por mais sóbrio que seja, ainda é um filme de Almodóvar, e ele parece brincar com o genero colocando cenas que a primeira vista parecem fora de lugar,como confissões bastante explicativas, ou revelações seguidas de musica de suspense,que acabam por criar um aspecto até cômico.
As mulheres para variar marcam presença em Abraços Partidos,além da ação girar em torno de Penélope Cruz,outras atrizes do diretor aparecem em pontas. Também vemos Katherine Hepburn na tela de tv, Jeanne Moreau é mencionada por causa de Ascensor para o Cadafalso ( suspense com um triangulo amoroso!), Penélope aparece meio Audrey Hepburn,meio Marlyn.
O grande trunfo do filme são fotografia e edição,impecáveis. Talvez seja o filme estéticamente mais bem cuidado de Almodóvar,com planos belíssimos e muito poéticos, e edição muito cuidadosa que flui a narrativa de forma muito organica, e cria situações. Não é à toa que o ponto de mutação dos personagens se dá por causa da montagem do filme de "mentira". Como a partir de todas as peças do quebra-cabeça montar algo coeso, que honre a história que está sendo contada?
Almodóvar parece querer nos dizer que cinema é imagem em movimento,narrativas,simples assim!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Colin

Uma camera na mão,uma idéia na cabeça,muito sangue, 70 dólares e mais de cem figurantes. O resultado é Colin,filme de terror,mais precisamente de zumbis que vem para transformar o genero.Geralmente estes longas ou flertam com o trash,ou com a comédia,não raro com os dois. O filme ingles tem trash,tem cenas comicas,mas é um drama. Acompanhamos a saga do anti-herói, Colin,após ter sido mordido e se tornado um morto-vivo. Ele vaga por Londres e o seguimos. O longa tem 97 minutos,pouquissimos diálogos, e sequencias de silencio e vazio profundos. O personagem parece flanar pela cidade abandonada por humanos e tomada por zumbis. Os planos são em sua maioria planos gerais que o mostram andando sozinho durante muito tempo,nos dando a sensaçao de abandono e desesperança,não há motivação,ou closes que o humanizam, os pés caminhando torto e arrastado,as mãos deformadas,como se fosse alguem com limitações.Tomadas da arquitetura ou do tempo, a propria mudança temporal gradual.
Em seu caminho Colin se depara com humanos que lutam por sua sobrevivencia,neste momento ele se torna de fato o que é : um zumbi. Ou seja, o instinto de matar e comer suas vítimas é o que o move,até que algo chame sua atençao.Neste momento o diretor presta uma homagem ao classico cinema de terror,pois as cenas não deixam a desejar nada ao mais sanguinário exemplar do genero,muito sangue e víceras para todos os lado.Entretanto, não existem mocinhos,nem vilões, o garoto morto-vivo e outros apenas fazem aquilo porque é o que deveriam fazer,a maquiagem é quase inexistente,o que lhes confere uma afeição assustadoramente humana ( tao mais fácil seria se eles fossem monstros horrendos...) e os humanos de fato não são muito melhores que os mortos. Estes não possuem consciencia do que fazem, apenas agem,já aqueles possuem o que é de mais caro a raça humana,o raciocínio, e cometem barbaridades enquanto o mundo se aproxima do fim. Ficando a pergunta de quem é realmente o perigo.
Em sua jornada o espectador é convidado a reflexao sobre sua própria condição e sentido ou nao de nossa própria existencia,afinal Colin está fadado a eternidade a marchar sem rumo alheio a toda vida que o cerca ? A consciencia é algo libertador ou é capaz de nos tornar tão piores do que zumbis ?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios

Em Bastardos Inglórios Tarantino salvou o filme histórico de si mesmo. Explico,nenhum filme reconta a História,ele pode servir como ótimo documento histórico da sociedade em qual foi feito,mas querer através de um longa jogar luz sobre acontecimentos passados não é possivel. É ficção e como tal,é possível colocar um personagem que nunca existiu,criar uma trama mais de ação,de mais romance, e no caso de Tarantino mais comédia,sangue e por que não mudar a História?Sim, o cineasta tem a coragem de pegar o evento histórico do século passado mais delicado e exaustivamente debatido para criar sua própria poética.
Trata-se de um longa que homenageia o cinema ficcional,a brincadeira de se criar realidades,sem o compromisso com o real. Tudo gira em torno do universo cinematográfico: uma atriz espiã,um comandante crítico de cinema alemão,Gobbels e o cinema de propaganda e o próprio cinema,palco onde as tensões se desenrolarão no final, o local redentor , são alguns elementos da trama.
Em um filme histórico sabemos qual o evento a ser narrado de antemão. Para ater-me apenas na temática nazista cito A lista de Schindler, baseado em fatos reais, A Queda, baseado no depoimento da própria secretária, O Pianista, autobiografia do personagem principal, Operação Valquíria,baseado em fatos reais. Em Bastardos Inglórios,este evento não existe.Tarantino cria um esquadrão de meia duzia de soldados judeus norte-americanos,mais um alemão que odeia o atual governo comandados por um comandante gentio caipira que tem por missão matar o maior numero de nazistas possíveis. Soma-se ao enredo uma judia sobrevivente que vive com identidade falsa em Paris que desperta o interesse romantico de um herói de guerra alemão.A partir destes elementos o cineasta cria seu enredo.
É interessante notar a dicotomia existente entre a representação dos alemães e a dos norte-americanos. Nada que seja muito diferente de Sobrevivendo ao Inferno,filme passado em um campo de concentração para oficiais do exército aliado,onde os ingleses são fleumáticos,os alemães arrogantes e o único norte-americano é um homem simples, com caracteristicas do ideal de cidadão americano,baseball,sem cerimonias,calças jeans e com gosto pelo perigo. Em Bastardos temos o mesmo padrão e mais,Tarantino introduz a herança indígena,o elemento "bárbaro", o pelotão tem por costume escalpar suas vítimas,ordens dada por seu capitão rustico interpretado por Brad Pitt que no filme que o lançou ao estrelato,Lendas da Paixão,era justamente o caucasiano com alma de índio,selvagem,que tentava ter seu lugar na sociedade branca.Já os alemães são brutos,mas com certa afetação. Lobos em pele de cordeiros passíveis de gerar terror no publico,mas também deboche. E é preciso notar a caracterização dos judeus no longa. Se nos filmes eles aparecem como aqueles dignos de pena e indefesos ante a crueldade nazista, em Bastardos eles tomam a rédea da situação,mesmo aparentando fragilidade como a sequencia em que o comandante está de frente de seus novos recrutas,todos franzinos,Woody Allens em potencial, ou da bela judia que a qualquer momento o publico acha que ela possa sucumbir frente a força nazista.
Não é apenas pelos personagens que o diretor mostra ao publico que não se trata de um "filme histórico". Trata-se de um longa de Tarantino,então é preciso comédia,muito sangue e diálogos afiados,nada que se veja no cinema que pretende recriar uma realidade.Entretanto como já foi dito a cima, Bastardos Ingloriosos se passa no evento mais exaustivamente comentado do século,todos posuem um imaginário sobre os acontecimentos dos primeiros anos da década de 40, e sendo assim o publico espera uma boa dose de "realismo". O diretor então desde as primeiras cenas tenta distanciar o publico do lugar comum do cinema feito sobre a Segunda Guerra. As cenas encerram em si suspensão,clímax e desfecho,não é possível ao espectador ficar passivo diante ao que acontece na tela,cada sequencia é uma nova surpresa,não é o fim que conta,mas aquele pequeno momento, a camera trabalha neste sentido,cada sequencia é retratada pelos mais diversos angulos,dando movimento,tensionando a ação,pois não sabemos qual o próximo passo. Os diálogos são narrativos,na medida em que através deles ficamos sabendo dos acontecimentos passados,ou de características de um personagem, a palavra tem tanta força quanto a imagem,ao invés de fazer a caracterização apenas pela interpretação e pela imagem, Tarantino opta pela descrição narrada pelo outro através de perguntas e respostas criando assim um estranhamento por parte do publico,acostumado a narrativa imagética. A trilha sonora também é contemporanea e ao contrários de seus outros filmes,parece que não se encaixa às imagens,não flui com a narrativa, causando também um distanciamento por parte da platéia.
Tudo corre bem até que o cineasta coloca uma peripécia que puxa o espectador para os eventos históricos que ele conhece,mas a semente já foi plantada e quem assiste fica na duvida do que pode acontecer,sendo que em qualquer outro filme o desfecho neste caso seria um único,o fracasso. ( Para entender,os bastardos e a garota judia planejam sem ter conhecimento um do outro um ataque contra os figurões do regime que assistirão a preimière de um filme de Gobbels em Paris, e eis que de ultima hora Hitler resolve aparecer na estréia).Mas lembre-se,Tarantino salvou os filmes históricos de si mesmos, e todos os elementos fílmicos desde seu começo levam ao final apoteótico,pequenos clímax que chegam ao seu máximo no local de redenção,o cinema,o local da fantasia por excelencia.
Quando de seu lançamento em Cannes,os jornais anunciaram que depois de Bastardos Inglórios nada poderia ser dito sobre a Segunda Guerra. Discordo. A partir de Inglorious Basterds tudo pode ser dito sobre a Segunda Guerra.

sábado, 10 de outubro de 2009

Terceiro dia de SOCINE

Eu não pude comparecer ao segundo dia,portanto temos um pulo para o terceiro e ultimo dia do encontro.Muito proveitoso. A tarde começou na mesa de cinema brasileiro até a década de 50,com a fala da colaboradora do blog Priscila Xavier sobre o cinema cinetífico,precisamente um filme do Instituto Butantan. Qual a relação entre estes documentários e a noção de progresso existente na sociedade na época?Como eles se inserem?Depois do intervalo, a mesa sobre cinema e tv com as falas sobre a geração 68 e sua construção mitica pela globo através de suas misséries,qual a identidade que foi forjada pela emissora; seguida da fala sobre o globo reporter e sua aproximação ou não com o cinema e com o documentário jornalistico.
Para fehcar, seminário com Educardo Escorel sobre documentário de memória. Tema que me trouxe algumas reflexões sobre o perigo de querer se achar a verdade.Na fala de Escorel apareceu muito isto e o compromisso com esta,mas o que é verdade?Nenhum documento é isento,sendo assim voce contrói uma linha de pensamento e não verdades. O interessante foi aproximar o trabalho do documentarista ao do historiador,só é necessário ter em mente que nunca se encontrará verdades e o compromisso pode ser com os fatos e ponto.São coisas muito diferentes.
Não sei como foi o balanço final para o Socine,hoje eles se reuniriam e amanha tem reunião na Cinemateca logo pela manha,mas para mim foi bem positivo pela qualidade dos trabalhos apresentados e pela diversidade de temas também.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Primeiro dia de SOCINE

Está tarde,mas como o prometido faço um balanço sobre este primeiro dia.
Hoje na minha agenda, era dia de construção de indentidade. Começou com Cinema Conteporaneo, e a construção da identidade nacional através dos filmes de sertão,quais as diferenças de realidades e de projetos construídos pelo sertão do cinema novo e o da retomada, o coletivo versus o individual, e onde estão os detentores do poder e seus excluídos.Depois do almoço, Cinema e Literatura I, a apresentação que me chamou atenção foi a do filme nunca exibido em circuito chamado Exu- Pía, trata-se de uma releitura de Macunaíma que tem como ponto de partida a peça de Antunes no final da década de 70,mas que mistura com ficção,relacionando-se com o filme de Joaquim de Andrade,pela escolha de um dos atores para o papel do herói, pelo universo pop,mas muito mais tropicalista, e com influencia na edição e na escolha do universo caótico com O Bandido da Luz Vermelha. Fiquei com vontade de assisti-lo.Para terminar, cinema frances e a transnacionalidade, o imigrante no cinema contemporaneo. Qual a posição que esta segunda geração de imigrantes possui na sociedade francesa?Estrangeiros na própria terra,uma vez que não são aceitos socialmente na Europa,mas também não pertencem ao país de origem de sua família,sendo sua formação híbrida.
E depois de muitas mesas, Eduardo Escorel e o documentário. Hoje falamos de doc de observação. Quais as limitações do genero.Como Cris Marker anteviu a lacuna que esta maneira de fazer domentário possui. Se as imagens por si só carregam significados. Até onde o cinema direto que se propõe a não interferencia consegue ser imparcial.
Amanha tem mais.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

13 SOCINE

Amanha começa ao 13 SOCINE. Hoje é a abertura na Cinemateca,com a palestra de Vicente Sanchez- Biosca da Universidad de Valencia sobre a Guerra Civil Espanhola e o imaginário bélico. Começa as 20h.
A partir de amanha,maiores informações sobre as mesas e o Seminario com Eduardo Scorel, que ocorre a partir das 19h no CINUSP até sexta.
Maiores informações em www.socine.org.br

sábado, 3 de outubro de 2009

Pipilotti Rist no Paço e no MIS

Semana que vem abre duas exposições de Pipilotti Rist em São Paulo. Para quem não conhece,é uma artista suíça que trabalha com video-arte, muito ligada a video-instalação e a performance.
Ocorreram dois encontros com ela no MIS quinta e sexta.Tive a oportunidade de ir ao primeiro,onde além de Rist estavam Solange Farkas,presidente do Vídeo Brasil e Wagner Morales,artista. Apesar da conversa não caminhar para o cinema expandido,fiquei com esta questão quando Pipolotti disse que gostava de subverter rituais,no caso o papel o espectador sentado,vendo uma imagem numa tela retangular.Por se tratar de vídeo,ela tenta retirar suas imagens da telinha pequena de um monitor de tv, e o publico tem seu corpo cotidiano afetado na medida em que seus trabalhos propoem um deslocamento do olhar e do corpo, as imagens são projetadas em mobílias em angulos não convencionais,no teto,no próprio corpo do espectador.Não tem como ficar passivo ao que acontece. A arquitetura ganha importancia junto com o vídeo e os dois compoem a obra.
No cinema,o que temos? A tela e a sala,uma caixa preta onde todos se sentam para ver o que será projetado,uma narrativa. Falar que o cinema é passivo seria erroneo, pois muitos filmes nos provocam,nos trazem reflexão e desconforto,mas existe uma parcela da industria cinematográfica hollywoodiana que tem por objetivo apenas criar o entretenimento ,o espectador senta,assiste àquelas imagens acompanhadas de pipoca,esquece do mundo exterior,depois volta para casa. Corpo e mente passivos.
Ao mexer na própria arquitetura,o corpo já cria uma nova vida, e traz a reflexão do porque daquelas imagens estarem ali. Que tipo de imagens e que tipo de publico este cinema expandido quer? Qual o limite entre a sétima arte e o vídeo?Qual o espaço para cada um ? Seria a narrativa a esfera do cinema, e a não- narrativa a do vídeo?
São questões que eu me coloco. Em primeiro lugar,porque o cinema mudou muito,o que mais dá lucro aos estúdios são os dvds, hoje é possível fazer um download de um filme e assistí-lo no iPod, ou seja da comunhão anterior,onde muitas pessoas em uma sala escura compartilhavam de uma mesma experiencia,em sua solidão de seu assento, resta pouco,uma vez que agora é possivel não compartilhar absolutamente mais nada em telinhas cada vez menores. E a vídeo- arte?É possivel ver trabalhos na net,mas alguma coisa se perde pois o espaço faz parte do trabalho, não precisamos mais da arquitetura do cinema,mas precisamos da galeria?
Em segundo, o tema da narrativa acaba sendo cada vez mais presente em ambas as esferas. Assisti Cremaster ( parte I e V) de Mathew Barney no Itau Cultural este ano,sentada na sala de cinema deles. Assisti ao ultimo filme de David Lynch, Império dos Sonhos, no dvd. Longa,que concorreu a todos os Festivais importantes, e ninguém contestou se era "cinema" ou não. Digo isto,porque trata-se de um filme sem nenhuma narrativa, cenas independentes,que não faz a menor importancia em qual ordem o espectador vai assisti-las,nem se vai ver todas. Já em relação ao filme de Barney,não é possivel ve-lo em dvd,muito menos em salas comerciais, a relação dos locais de exibição mostra gerelmente museus, galarias,centros culturais, festivais de cinema experimental. E qual a diferença entre um e outro?
São apenas colocações sobre a expansão do cinema e seus desdobramentos. Eu não tenho respostas,apenas muitas questões, e deixo em aberto para reflexões de cada um.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Fernando Solanas em São Paulo hoje

Na noite de ontem ocorreu a abertura de um dos eventos mais importantes da área de Cultura, que é o "II Congresso de Cultura Ibero-americana". Aí você se pergunta porque invadi o blog de cinema para falar disso afinal de contas?
Bem, já respondo... Hoje à tarde haverá a conferência de um dos mais importantes cineastas argentinos de todos os tempos: Fernando Solanas!
Responsável por um dos cinemas mais aguerridos, com uma grande capacidade de discernimento estético e também político, aliás, um dos fortes candidatos à presidência hermana nas próximas eleições... Mas isso não vem ao caso, o que merece a nossa atenção é sua obra cinematográfica, que teve início com o impactante documentário "La hora de los hornos" (1968), lançado durante uma das várias ditaduras deles é até hoje referência de não-ficção política.
Com quase quatro horas de duração, o filme é dividido em três partes entituladas: “Neocolonialismo y violencia” (o mais conhecido); "Acto para la liberación" (dividido por sua vez em "Crónica del peronismo (1945-1955)" e "Crónica de la resistencia (1955-1966)") e por fim "Violencia y liberación". Chamado de cinema revolucionário, para ser exibido fora das salas convencionais, em fábricas e outros lugares onde os trabalhadores estivessem, a película foi realizada dentro do grupo "Cine Liberación", que fomentava a revolução contra o governo militar.
Nesse momento está sendo lançado no Festival do Rio seu novo filme, que faz parte do projeto de uma série de dez documentários, que buscam entender a nação argentina dos últimos anos, através da história da ferrovia nacional. O título: "Tierra Sublevada. Parte 1 - Oro Impuro", que espero vê-lo em breve nas nossas telas...

Tudo bem, estamos em períodos em que os idealismos até utópicos sessentistas não nos servem mais por uma série de razões sócio-históricas, mas não deixa de ser interessante olhar o resultado cinematográfico de um pensamento. Como uma arte pode ser arma de luta de uma geração em determinado espaço-tempo...
Por isso estou tão empolgada com a possibilidade de ver e ouvir o que esse senhor que ainda transborda sonhos de um mundo melhor tem a nos dizer, daqui a algumas horas no Sesc Vl. Mariana...
Vou indo, senão me atraso e daí não tenho o que contar depois...

Volto com novidades!


Painel 1: O audiovisual e a identidade
Dia 1º de outubro, das 15h às 17h

Os meios audiovisuais de comunicação e de expressão constituem uma área fértil para a problematização de questões relacionadas à identidade e à diversidade cultural. Este é um campo em que as contradições entre padronização e diversidade cultural mostram-se mais nítidas, evidenciando as esferas de poder e as trocas simbólicas envolvidas no processo. Nessa perspectiva, este painel pretende retomar a memória e aprofundar as discussões ocorridas no I Congresso de Cultura Ibero-americana, que esteve focado precisamente nas linguagens audiovisuais e, em especial, no cinema.
Participantes

» Fernando Solanas (Argentina)

Cineasta e roteirista. Dirigiu Sur e El Exílio de Gardel (Tangos), entre outros filmes.

» Jorge Ruffinelli (Uruguai)

É professor na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Autor de livros sobre crí¬tica literária e cinema, entre eles a Enciclopedia del Cine Latinoamericano.

» Omar Gonzáles Jiménez (Cuba)

Presidente do Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica. Poeta e jornalista, foi editor do jornal El Caimán Barbudo, do Instituto Cubano do Livro, do Conselho Nacional de Artes Plásticas e vice-ministro de Cultura.

» Orlando Senna (Brasil)

Cineasta e jornalista, foi Secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura (2003-07), e diretor geral da TV Brasil (2007-08)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O Anti-Cristo

"Tudo depende dos céus,à excessão de um pequeno numero de sábios,capazes de resistir à paixões por eles provocada" ( Dicionário do Ocidente Medieval)

Quando Lars Von Trier apresentou seu filme em Cannes os jornais o anunciaram como um filme de terror. Não o vejo assim,mas sim como um filme simbólico que como tal traz elementos que escapam ao convencional,uma ligação com o inconsciente. O diretor cria um universo imagético através de seus dois personagens com profunda conexão com cristianismo medieval.
Se desde Os Idiotas o Homem não é naturalmente bom, é corrompido e capaz de ações vis, em o Anti-Cristo esta condição humana atinge seu ápice. William Dafoe e Charlotte Gainsbour são casados e perdem seu filho bêbe, a mulher mergulha num luto intenso, e o marido,terapeuta,tenta ajudá-la levando-a para a Floresta de Éden. Na tradição bíblica,Adão e Eva são puros no Éden até cair em tentação,e assim serem expulsos do Paraíso. No longa, o Éden é o local para se temer,estranho,onde não existe controle. O homem e a mulher voltam para casa mas apenas para constatar que a Natureza não é um local seguro,nem podem resgatar a inocencia perdida. O "caos reina",não só é o nome de um dos capítulos do filme, é a atmosfera criada por Lars Von Trier para seus personagens.
Somos compelidos a seguir a linha de racicínio do terapeuta,cada gesto desmedido da mulher,intriga,cada exercicio proposto pelo marido e seus resultados nos faz achar que estamos mais perto de descobrir o que realmente preocupa e perturba esta mulher,somente para na próxima cena convicções serem desmachadas, e voltar tudo a estaca zero. O diretor dinarmaques consegue mais uma vez num equilibrio raro combinar o envolvimento profundo que a platéia cria com seus personagens com distanciamento bretchiniano,através ,neste caso, de cortes abruptos,camera tremula,suspensão do tempo,realidades sobrepostas,fazendo com que os espectadores não sejam meramente passivos,mas que questionem a todo momento o que estão vendo na tela. Soma-se ainda neste caso particular todo simbolismo presente no longa. Animais,falas,gestos,astrologia. Confundindo quem assiste,buscando sempre a atenção de seu publico.
Na tradição cristã,nascemos todos já corrompidos devido ao pecado original,que ao contrario do que se pensa,não é o sexo,mas sim a consciencia de sua condição,criando assim no ser humano o livre arbítrio para ir e vir,deixando de ser inocente. Esta é uma questão muito tratada ao longo do filme,podemos escolher o que fazer. O terapeuta,que representa a razão,coloca esta questão a todo momento,para a mulher,que representa o instinto. Papéis absolutamente enraízados no pensamento medieval, a mulher como insáciavel,o homem como senhor da situação.Condenada já está a mulher que rompe o voto de castidade para o Cristianismo.Desejo,volúpia,luxúria,adjetivos que acompanham não uma cristã,mas sim uma feiticeira,que pela tradição é adoradora de Diana, a deusa da caça, que representa justamente a natureza. Em o Anti- Cristo, temos muitas cenas de sexo, sempre comandadas pela personagem feminina, e a Natureza é sufocante,sempre em planos gerais que faz com que os personagens sejam parte deste meio,como em simbiose. Se a Natureza é representada por uma deusa pagã,e o local do instinto não do logus,é um local perigoso,ou como a própria mulher diz, a casa do Diabo.Ou seja,trata-se de um filme sobre simbolismo e tradições europeias,e não terror,por mais que seja um bom genero,é diminuí-lo. Como é de se esperar em um filme de Lars Von Trier,algum evento desencadeia o que existe de pior no ser humano,criando uma situação limite, para no fim existir mais um ponto de virada em que as máscaras caem e o espectador se sinta no mínimo desconfortável.
Talvez seja um dos filmes mais dificeis do diretor,mas tenho certeza que Tartovsky,para quem o filme é dedicado,apreciaria.

sábado, 26 de setembro de 2009

XI Festival Internacional de Cinema do Rio


Estreando praticamente em matéria de blog a convite da querida Malu que, sei lá por que diabos, me viu como interlocutora nessa área, mas enfim, agradeço publicamente a confiança e espero não ser preguiçosa e conseguir escrever algumas coisinhas, como críticas, opiniões, resenhas e afins, tentando estabelecer algum diálogo sobre o mundo apaixonante da dita sétima arte. Vou começar com um texto escrito em primeira pessoa, já que não sou nem pretendo ser nenhuma assumidade no assunto, a princípio quero registrar impressões sobre as obras e mesmo treinar a danada da escrita em termos de crítica, que é sempre um exercício para os que estão, de certa forma, ligados ao mundo cinematográfico, mesmo que seja na teoria.

De início, como a própria Malu disse: farei as vezes de uma espécie de “correspondente” do blog no Rio, vou tentar falar um pouco do Festival de Cinema que está acontecendo agora, lembrando que nesse primeiro texto meu objetivo é mais oferecer um panorama do que tenho visto (que é bem pouco, tendo em vista a diversidade e quantidade de opções), do que propriamente uma crítica ou resenha de filmes.
Aliás, só ficarei aqui, infelizmente diga-se de passagem, nos quatro primeiros dias do festival (perderei boa parte do burburinho da recepção aos filmes), enfim, acho que nestes poucos e intensos dias, conseguirei ter uma amostra do que está por vir e que talvez não veremos na Mostra de São Paulo em novembro próximo.
O Festival do Rio teve início na última quinta (24/09), com sessão exclusiva para convidados do aguardado filme novo de Ang Lee (pra quem não conhece, o mesmo diretor de Broke back Mountain) “Aconteceu em Woodstock.”, já com ingressos esgotados para todas as sessões. Os que se adiantaram em horas de filas, já garantiram seu ingresso para ver o tão aguardadíssimo “Bastardos inglórios”, que marca o retorno de Tarantino, além de outros grandes como a nova trama de Almodóvar “Abraços partidos”, que traz mais uma vez Penélope Cruz como protagonista; a segunda parte do filme “Che” (que teve sessão completa na última versão da Mostra de SP), além do francês “Coco antes de Chanel”, que entrará em cartaz nas próximas semanas.
Bem, fazendo a autocrítica agora: não sei se sou a mais indicada para ser “correspondente” em festivais, pois não me comporto como tal, já que particularmente não procuro ver aos filmes mais aguardados, dos diretores reconhecidos e tudo mais, embora confesso que a curiosidade esteja me matando, não tenho lá muita paciência para aguardar horas em uma fila para provavelmente não conseguir ver o filme que, com certeza, dentro de algum tempo entrará em cartaz no circuito. Prefiro mesmo “correr por fora” e descobrir raridades e surpresas (às vezes péssimas, claro) e ver aqueles filmes de diretores e países que nunca mais tomarei contato novamente ou mesmo que anos depois alguém descobre a genialidade da obra - já tive experiências incríveis em mostras anteriores, que valeram muito na minha formação como espectadora de cinema.
Essa semana de estadia no Rio foi complicada em termos de cinema... Para além dos meus assuntos particulares que me trouxeram à cidade, tentei aproveitar o circuito local (atentando para o fato de que, como boa paulista trouxe minha nuvenzinha de chuva, o que adensou minha vontade de permanecer no interior das salas de cinema!). Complicada digo no bom sentido do termo, mas angustiante pela diversidade de opções, só para citar: Mostra de cinema argentino no CCBB (que tentei ver os que não consegui em SP); Recine (mostra organizada pelo Arquivo Nacional voltada a filmes de arquivo), que esse ano homenageou a Era do Rádio; uma mostra da Caixa Cultural (uma boa surpresa, que não irá ao circuito paulista tão logo) chamada de “Primeiros olhares”, que mostrou os primeiros longas de 12 importantes diretores contemporâneos, como Wong Kar-Wai, Gus Van Sant, Lars Von Trier, Beto Brant, entre outros.
E finalmente o Festival do Rio, com mais de 300 opções, que estão me deixando louca! E pra piorar, o sol finalmente chegou à cidade e a praia é sempre uma alternativa tentadora... Mas isso não vem ao caso, o que importa agora é falar de cinema! Ontem (sexta) começou a mostra para o grande público, do qual faço parte. Comecei a maratona com três filmes...
Ainda estou triste por não ter conseguido o ingresso para ver o novo da maravilhosa Agnes Vardá, com o precioso detalhe de que a sessão contou com a presença da própria (!), chamado “As praias de Agnes”, que espero ainda ter a oportunidade de assisti-lo antes de pegar o vôo de volta ao frio... Enquanto me remoia, decidi assistir aos documentários que estavam passando no CCJ, na Cinelândia mesmo, o mote eram filmes estrangeiros que olham o Brasil e lá fui com um pé atrás ver as denúncias políticas que tanto estamos acostumados...
Comecei com “Parajuru”, um documentário de José Huerta, brasileiro que vive no exterior, mostra uma comunidade pesqueira no litoral do Ceará, que sofre a especulação imobiliária de uma rica austríaca, que aos poucos tenta minar a cultura do lugar... Na seqüência tivemos “O Areal”, do chileno Sebastian Sepulveda que, por sua vez, filma uma comunidade remanescente de quilombolas na Amazônia, com todas suas tradições e cosmologia, num enredo envolvente neste aspecto e que no fim somos surpreendidos por uma virada na narrativa onde a comunidade entra num “embate” com a chegada do “progresso” e extração de areia no local. Esse último contou com a presença do diretor, que debateu com o público a construção e resultados da filmagem. Os dois filmes colocados em seqüência trouxe reflexões mais de cunho político que de construção de uma linguagem de documentário, o primeiro com uma tese mais esclarecida, em que o contato com esse estrangeiro predador tiraria a cultura do local e o segundo buscando uma forma mais subjetiva de colocar essa questão, interessante analisar duas formas de abordagem para a mesma problemática política de exploração do país, utilizando-se do cinema como arma de combate e denúncia.
Saindo do campo da não-ficção, mergulhei numa ficção do também chileno Sebastian Leilo, chamada “Navidad”, que conta a história de três adolescentes que passam a noite de natal juntos em uma casa de campo abandonada, que pertenceu à família de uma das personagens. Tendo sido financiado pela fundação de Cannes que dá recursos a diretores escolhidos em diversas partes do mundo e sendo parte da quinzena dos realizadores do mesmo festival, foi bem filmado, com uma bela fotografia que soube aproveitar do cenário da casa, porém, o que poderia ter resultado em uma boa trama, me pareceu morno e até abusando de certos clichês narrativos, como o óbvio triangulo amoroso entre as personagens, sendo a princípio um casal em crise e uma adolescente que aparece na casa após uma fuga de casa... Saí com um pouquinho de frustração pelo roteiro, esperava mais.
Por enquanto, esse é o resumo bem básico e raso do meu primeiro dia no Festival de cinema do Rio, espero poder escrever algo mais aprofundado quando voltar à rotina paulista e com um maior distanciamento aprofundar minhas questões sobre os filmes vistos aqui.

Jeanne Moreau

Jeanne Moreau está no Rio de Janeiro para Mostra. Será homenagiada por seu trabalho.
Hoje na Folha saiu uma entrevista com a atriz que pode ser lida no blog http://ilustradanocinema.folha.blog.uol.com.br/

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Street Car Named Desire - Elias Kazan

O blog inicia sua jornada com um dos filmes mais importantes do século XX, A Street Car Named Desire de Elias Kazan. Longa que mudou o paradigma de atuação no cinema e nos apresentou o naturalismo.
Boa Leitura!


Nova York, 1947, Elia Kazan dirige a primeira montagem de Street car named desire .No papel de Stanley, um jovem ator recém saído do Actor Studio fundado pelo diretor.Em 1951 Kazan leva as telas a peça, e mais uma vez sr Kowalski fica a cargo do ator até então desconhecido.O mundo descobre Brando, e junto descobre Stanislavski.
Quem?Um russo!Ator e diretor que há muito vinha procurando uma nova atuação, ou o leitmotiv dos atores. Antes de seu propalado método a atuação era mecânica e vazia de significado, não raro beirando ao exagerado estereotipo. Stanislavski indagava desesperadamente sobre o processo de atuação.Para o diretor era uma questão de trabalho pesado, repetição atrás de repetição, todavia nunca mecanizado.Um gesto nunca poderia ser vazio, é sempre preciso vida e verdade! O ator precisa ter consciência de seus movimentos, saber quem é. A cada personagem, personalidades diferentes, é necessário, portanto, saber quem representa, quais as reações prováveis, o que sente e como. Em My life in art Stanislavski escreveu “ no one knows what will move his soul ( sobre o ator), and open the treasure house of his crative gifts.The creativness of na actor must come from within”
Kazan admirado com essa busca interior da atuação funda com outros colegas o Actor Studio e passa a aplicar a classe artística norte-americana o método que revolucionou teatro e cinema no século XX.
Não se pode imaginar Gary Cooper, Gregory Peck, nem Cary Grant na pele de Stanley, o resultado seria mais que desastroso. O bom mocismo frígido não se encaixa no imigrante bruto.Para esta personagem era necessário alguém animalesco, puro instinto, era preciso exalar sexo, desejo carnal e de morte. O publico é então apresentado a Brando, calça jeans, camiseta branca apertada, másculo. Seu rosto possui marcas, é sofrido, sua voz é esganiçada, na potente fake como as dos mocinhos. Ei-lo Stanley Kowalski em carne e osso.Em oposição existe Blanche, papel dado a Vivien Leigh, vinda de outra tradição teatral.Exagerada, histriônica, mas é o que Srta Du Bois pede, pois não conhece medidas.
Kazan consegue ao unir as duas escolas a diferença e antagonismo que existe entre as personagens. Com sua câmera disseca essas duas almas atormentadas.
O diretor levou as salas de cinema um realismo , o qual as platéias não estavam acostumadas a ver; não se tratava de uma história com happy end, nem de luta do mocinho pela mocinha. Eram dois anti-heróis lutando pela sobrevivência no meio a degradação, enquanto tudo a sua volta ruía.
Para levar sua história a diante Elai Kazan entrou em atrito com a Legião da decência reguladora do Código de Produção.Hollywood era controlada pelo puritanismo norte-americano ( hoje em dia é apenas o capital, mas dá na mesma, uma vez que os produtores de grandes produções ainda detém poder maximo dentro de um longa, contratando e demitindo quem bem entenderem.Por isso muitos diretores e astros abrem suas próprias produtoras, para poderem ter total liberdade de criação), tudo que fosse considerado imoral para família norte-americana era censurado.O diretor conseguiu terminar seu longa, tornando-se pioneiro de uma luta contra o poder abusivo dos estúdios, que mobilizou Billy Wilder, Richard Brooks, Arthur Penn e Sm Peckinpah. Entretanto o estúdio suprimiu dois elementos importantíssimos presentes no filme: o Jazz que intermeia toda peça, dando aos negros alguma voz e demonstrando para platéia que era no máximo esta posição que ela permitia aos afro-americanos.A trilha usada foi convencional, por ser considerada menos “lasciva” e “subversiva” . E o final, conferindo uma moral edificante a história.
No texto de Tennessee Williams Blanche, impossibilitada de viver num mundo ideal, enlouquece gradativamente até sua derrocada, sua violentação por Stanley lhe retira qualquer resto de pureza que poderia existir.Obrigada a viver nesse mundo perdido é agora expulsa por aqueles que a levaram a destruição . Está só, irremediavelmente só, dependendo apenas da bondade de estranhos, como ela mesma coloca.Stanley continua em sua vida de jogatinas, bebidas, Stella escolhe o mundo do marido, conseqüentemente rejeita a irmã.Contudo na adaptação para o cinema se o desfecho trágico de Blanche permanece o mesmo, Stanley precisa pagar caro pelas atrocidades que cometeu. A noção de justeza tão presente em filmes norte-americanos aparece aqui, Kowalski destruíu a mulher que levava em seu estado bruto toda pureza e virtudes necessárias ao ser-humano. O final do polaco é o mesmo destinado a parcela da sociedade marginalizada, por ser considerada menos moral, ou não dignos. Só, enquanto sua esposa escolhe a “dignidade” o publico vê o rosto débil de Stanley urrando em grito animalesco de dor: STELLA!!!

Postado por Malu Andrade