quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Os Melhores da Década


Quem não gosta de uma lista?Que o diga Rob Gordon! Por isso o cenas resolveu fazer a sua própria lista dos 10 melhores filmes da década.Sempre dificil,e com uma generosa dose de subjetividade porque querendo ou não os gostos entram na jogada!Portando não será uma lista com classificações,são os 10 melhores e ponto,sem primeiro,segundo lugar,cada um que de a sua posição!

AS HORAS
O livro de Michael Cunniham é fantástico e a adaptação para o cinema pelo ótimo David Hare é primorosa. Tudo se encaixa no longa,direção,edição,fotografia,direção de arte, a maravilhosa trilha de Phillp Glass,mas o que realmente impressiona é a atuação do casting,Julianne Moore como Mrs Brown tem a melhor atuação da década!

DOGVILLE
Lars Von Trier faz uma obra-prima ao ir fundo no distanciamento bretchiano, através do simbolismo teatral ele conta sua história no local onde magia e realidade andam juntas,no cinema. Quem mais faria uma cidade desenhada com giz ganhar vida na tela! Ótima fase de Nicole Kidman também.

A PROFESSORA DE PIANO
Michal Hanake e Isabelle Huppert,como dar errado?Sufocante,tenso,angustiante,sádico e obrigatório. Trata-se de um filme de ator,o diretor austríaco permitiu a atriz criar e mergulhar fundo no universo perverso da professora.

CIDADE DOS SONHOS
Depois de Twin Peaks, Cidade dos Sonhos foi que alçou o diretor a estrela pop,listas para entender o filme foram criadas nos EUA. Bobagem pura,é só embarcar no enredo policial surrealista e se deliciar com a nova estrela em ascensão Naomi Watts. Silencio,silencio,no hay banda,no hay orquesta já se tornou uma das frases mais famosas do cinema.

ENCONTROS E DESENCONTROS
Muito melhor que seu filme de estréia, Sophia Coppola acertou a mão nos atores escolhidos para personagens principais,o então decadente Bill Murray e a desconhecida Scarlett Johanson, nas cores pastéis do universo habitado pelos personagens,pelo tempo estendido das cenas,pela trilha melancólica. Assitir sozinho o filme numa sessão no meio da tarde com 2 ou 3 gatos pingados é desolador e impossivel de não se sentir como o casal.

EDIFICIO MASTER
Vale pelo simbolismo de ter Coutinho voltando com força ao cinema,pelo seu estilo de documentário de achar personagens únicos e extrair deles o mais interessante.

CINEMA,ASPIRINAS E URUBUS
Belíssimo,fotografia ímpar e o nordeste não é apenas um cenário escolhido como modinha para que o filme fosse feito,é personagem também,os personagens,o road movie tudo se encaixa perfeitamente!

BASTARDOS INGLÓRIOS
Tarantino virou muito pop e seus filmes super produções como o caso de Bastardos Inglórios,com elenco espetacular várias locações. O longa é espetacular cinematograficamente e Tarantino salva os filmes históricos de si mesmos!

MATCH POINT
Woody Allen faz sua grande obra prima ao decidir sair de Nova York. O conceito trágico de destino que o instiga em suas peças e em alguns de seus filmes encontra a forma perfeita ao relacioná-lo com o trágico em Dostoiévsky. Brilhante!

O CAVALEIRO DAS TREVAS
Sempre tem de ter espaço para um blockbuster e O Cavaleiro das Trevas é o escolhido. Filme bem feitinho,Cris Bale já tinha se mostrado um bom Batman,Michael Cane como Alfred cria um contraponto blasé na medida para o intenso Bruce,mas claro que o longa não seria nada sem o personagem do Coringa,pontos para o entendimento do roteirista para o vilão,mas aplausos calorosos para a contrução inacreditável por parte de Leadger!






domingo, 12 de dezembro de 2010

Machate


Um filme que tem como vilão Steve Segall merece muito respeito.Imagine todos os filmes ruins que voce já viu,o cliche, o herói solitário que vive apenas para vingar a morte de seus entes queridos,não tem nada a perder,é matar ou morrer,e o vilão é um bandido inescrupuloso que faz qualquer coisa por ganancia. Machate é tudo isto,só que ao invés de levar a sério todo este arcabouço de referencias Bs,torna-se uma grande piada.
Rodriguez refere-se aos filmes policiais latinos da década de 70,uma espécie de faroeste mexicano,aos filmes de luta dos anos 80 que tem Steve Segall como o herói supremo e as gangs como as grandes vilãs, e aos filmes de Tarantino com a violencia exagerada e comica.Assim como seu grande amigo e parceiro, Robert Rodriguez flerta com o kitsch, o alternativo do alternativo,a ultra violencia, o popular, os quadrinhos,para depois juntar tudo num caldeirão pop e voi lá temos os seus filmes.Entretanto o que difere o diretor de seu parceiro de "pulp fictions" é sua pegada mais latina,mas quente,intensa,viceral,enquanto Tarantino é mais cômico,mais ácido em sua violência. Outro ponto de divergencia entre os dois é a sexualidade das personagens. Em Tarantino é mais sugerida,em Rodriguez a sensualidade é reiterada a todo momento,ele brinca com fantasias e todos os cliches possíveis e imagináveis, a dupla caliente e antagônica Michelle Rodriguez e Jessica Alba é coptada pelo ogro sensível Machate e ambas caem de amor pelo "feo", na outra ponta temos a patricinha desmiolada,drogada que não possui muito local na história ao não ser o de fazer Lindsay Lohan rir de si própria.Atores decadentes ou outsiders sempre possuem espaço no imaginário Tarantino/Rodriguez.
Podemos ver Machate também como filme político por discutir um tema muito atual da agenda americana,a imigração. Com a lei anti-imgração do Arizona nos holofotes, o debate sobre como tratar esta minoria que cresce rapidamente no país, não perdendo de foco a liberdade e democracia tão caros a constituição norte-americana ( país feito de imigrantes,aliás) está em todos os meios de comunicação. O longa de Rodriguez coloca o dedo na ferida ao mostrar que a política whasp é financiada pelos próprios cucarachos que eles querem se livrar,ao deixar claro que ideologia nos dias atuais não conta mais e tudo é pensado em lucros e que o problema sério e grave do narcotráfico não é em hipótese alguma um problema para o lado de lá da fronteira.
Mas no final,trata-se mesmo é de uma boa brincadeira!


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um Quarto em Roma

Imagine um filme em que duas pessoas viajando pela Europa se encontram num bar,flertam e acabam no hotel de uma delas.É a ultima noite de ambas na cidade,depois cada uma seguirá seu rumo. Aquelas horas são unicas,sem nunca terem se visto e sabendo que nunca mais se verão,o casal pode ser quem quiser,strangers in the night,momento propício para fantasias serem criadas,novas máscaras. Uma relação que não precisa necessariamente passar pela verdade mesmo num momento de tanta intimidade,entretanto quanto mais se envolvem sexualmente mais se envolvem emocionalmente também e verdades nunca reveladas a ninguem podem ser contadas ao confessor estranho.
Tudo para ser um bom filme certo?Pois Um Quarto em Roma falha miseravelmente. Um colcha de conflitos entre uma cena de sexo e outra não consegue dar peso ao filme,existe uma tendencia em aprofundar o drama,como se em cada momento as duas mulheres se enredassem mais,entretanto só é sugerido pois as ações continuam superficiais,sexo e mais sexo,pausa para uma conversa rápida e mais sexo. Tudo isto permeado de péssimo mau gosto na escolha de uma trilha sonora exagerada que pontua nos momentos errados dando um tom comico a tudo aquilo,uma camera afetada que procura sempre os enquadramentos mais estéticos mas muito gratuito,sem que haja um porque realmente cinematograficamente.Soma-se a tudo isto uma conversa sem pé nem cabeça sobre a Historia de Roma e dos Gregos.
No final me pareceu um comercial mal feito da Microsoft,pois tudo gira em torno do site de busca deles,o bing,que torna o elo de ambas com o mundo real e consequentemente com suas histórias "reais".

domingo, 28 de novembro de 2010

Voce Vai Encontrar o Homem dos seus Sonhos

Parece que filmar fora de casa faz bem a Woody Allen,especialmente na Inglaterra,onde o humor é peculiar como o seu, e existe uma boa dose de fatalismo impregnado na sociedade. Como em Match Point ele explora o tema destino,livre arbítrio e tragédia,só que desta vez de maneira comica,e muito ácida.
Com ares de comédia romantica o longa vai se tornando menos comico e mais tenso ao longo da narrativa. O narrador nada condescendente com os personagens nos guia pela história de final nada feliz ao menos para grande maioria. A trilha de jazz sempre presente nos filmes de Allen servem aqui para pontuar as cenas conferindo-lhes um ar comico,ironico e muitas vezes patético. A direção de arte é ponto forte,com tons pastéis sem vida ou branco asceptico,combinada com casas entulhadas de coisas,que criam uma sensação de sufocamento cada vez mais crescente.
Todos os personagens fracassam,querem atingir o sucesso,criam milhares de planos lindos,mas os destino sempre vem para lhes pregar uma rasteira.Projeções são feitas de maneira calculada,pensadas friamente,entretanto uma avalanche de fatos se sobrepõem as expectativas de todos.
Voce Vai Encontrar o Homem dos seus Sonhos torna-se amargo,de riso dificil por ser tão mundano,de ser tão possivel,de ser muitas vezes nós mesmos.
O narrador abre o filme com a célebre frase "A Vida é feita de Som e Furia" e ao final percebemos que a vida "não significa nada". Mesmo!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

The Kids Are All Right

Casamento não é coisa fácil,diz a personagem de Julianne Moore em determinado ponto do filme. The Kids Are All Right faz um retrato bem humorado desta dificuldade de permanecer do lado de outra pessoa durante tanto tempo. O casal formado pelas ótimas Annet Benning e Julienne Moore está junto a duas décadas e tem dois filhos com o mesmo doador biológico. Levam a vidinha de sempre,rotineira até que seus rebentos decidem conhecer o pai.
O que está em questão no longa são como de dão as relações ao longo do tempo,como construimos laços e como convivemos com nós mesmos com o passar do tempo,ser uma família gay ou tradicional é apenas uma escolha do roteiro que não faz do filme um portador da bandeira gay.
A diretora de forma delicada constrói por meio de símbolos as relações dos personagens,um gesto,um objeto,dizem muito. Dificil nos dias atuais o diretor que se preocupa cuidadosamente em criar simbolicamente estas conexões. A cena em que as duas mulheres estão no banheiro conversando depois de um jantar,escovando os dentes é um exemplo da direção de Lisa Cholodenko. Cena de um cotidiano banal,mas que apresenta todo o peso desta relação para o publico: a rotina do casal, a perda de mistério e sensualidade por parte das amantes (escovar os dentes de pijama mal ajambrados) e um punhado de cabelo de Julienne pego por Benning no ralo,este símbolo retornará no climax .
Não há duvidas que boa parte do sucesso do filme se de pela presença marcante das duas atrizes e do bom desempenho do machão canastra e sensivel de Mark Rufallo.Destaque para Annet Benning na cena climax do filme, a camera fixa em seu rosto,o audio é interrompido e só temos na tela,ela, seus olhos,sua respiração,tudo desmorona em sua volta,mas ela em um jantar com todos da família não pode desabar,toda sua dor,incompreensão, e deslocamento estão em seus olhos e nas pequenas movimentações de boca. Raras as atrizes que seguram tal cena e transmitem o que o diretor quer captar com um close tão agressivo.
The Kids Are All Right não tem a pretensão de ser um grande filme, e talvez por isso ele seja uma ótima diversão.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sonho de Duas Passagens

Silencio. Bruto. Peso. Natural. Palavras que definem bem o longa americano Sonho de Duas Passagens. Quase não há diálogos, o poder é imagético,a floresta onde a história se situa é a força motriz dos personagens,de suas relações com o mundo e entre si. Assunto recorrente no imaginário norte-americano desde o século XIX,a volta a natureza,o abandono da civilização e a conexão com outra lógica social.
Uma família composta por dois irmãos e sua mae mora afastada de tudo e de todos no coração de uma floresta. Os rapazes belos e de traços delicados possuem um lado bruto forte marcado pela existencia no local. As leis da cidade não valem ali,eles vivem a parte do mundo civilizado instituído. Caçam seu próprio alimento, a tv (grande comunicadora e fonte de ligação) não funciona propriamente,fazem suas leis.
O longa se prende na relação destes personagens com o local,o tempo é diferenciado,lento,da própria natureza. A narrativa é da passagem do tempo. Ao perder a mãe, os dois rapazes realizarão uma jornada para cumprir seu ultimo desejo. Não é um caminho de auto-conhecimento,de reviravoltas mas o desejo maior e a responsabilidade de algo muito maior.






sábado, 30 de outubro de 2010

Metropolis


Não falarei do filme Matrópolis propriamente,não teria nada por agora a acrescentar a este belíssimo longa de Lang,mas volto-me para a experiencia unica que foi assistir-lo em tela grande,com musica ao vivo no Parque do Ibirapuera. Tudo nesta frase é excepcional, a oportunidade de ver um clássico em tela grande, o acompanhamento de uma orquestra,nos trazendo a sensação de como deveria ser a dobradinha cinema mudo e musica ao vivo, e o local,um parque. Ao contrario da sala escura onde o silencio impera e até um leve sussurro pode atrapalhar a pessoa ao lado,no gramado do Ibira a platéia estava compenetrada,havia silencio mas era possivel compartilhar a experiencia com a pessoa ao lado,os fumantes felizes pois podiam fumar sem ser discriminados,cachorros com seus donos,carrinhos de crianças,piquinique,uma grande comunhao.
Experiencia para guardar na memória e se perguntar porque o governo em conjunto com empresas nao patrocinam tais iniciativas mais vezez,por que só a Mostra tem boas iniciativas como esta e a bem sucedida exibição no vão livre do MASP? Uma vez a cada dois meses exibir um filme de peso em parques não pode ser mais caro que muitas bobagens escolhidas pela prefeitura e estado para cultura.
Leon Cakoff deixa a dica para a administração de São Paulo de como levar produto de qualidade para a população.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2


O que faz o herói?O que é preciso?Qual a diferença entre ele e a humanidade em geral?Eu poderia citar alguns teóricos,entre eles Campbell,falar da Arete,entretanto tio Ben ainda possui a melhor definição : "with great power comes great responsability". Grande responsabilidade...um artista não deve ficar preso a regras da sociedade,ele deve provocar, abalar de alguma maneira nossa visão de mundo,pode ser através de um soco no estômago,ou através da delicadeza,todavia ele não deve ser irresponsável. Padilha é irresponsável com Tropa de Elite 2. Pode-se argumentar que trata-se de ficção e não realidade,como uma revista cultural o fez quando do lançamento do primeiro, o comparando com Cobra,filme trash de Stalonne,oras só alguém muito ingênuo acharia que a industria cinematográfica norte-americana não possui uma ideologia!No caso,o americano médio,o homem comum com garra e vontade,aquele mesmo que construiu a nação.No caso brasileiro...temos todo o cinema viuvo do cinema novo,do cinema verdade da favela e sertão,preocupado em retratar as mazelas do povo,40 anos depois voltar no mesmo cenário,valendo-se da miséria mas discursar sobre ficçao e nada além disto é leviano!
Tropa de Elite é a ficçao no momento em que carrega nas tintas,quando constrói o cliche e chapa o conflito,e é problemático também pelos mesmos motivos.
Não estamos mais na favela apenas,no problema do tráfico e usuário, o foco é o sistema,a corrupção generalizada,introjetada na sociedade brasileira,todos os políticos são corruptos,ninguém presta, a esquerda é imbecil e ingênua por achar que ainda é possível sonhar com um mundo melhor veja só através do diálogo e do gesto democrático de eleições ( uma mudança de foco sem duvidas sobre uma visão estereotipada de barbudo comedor de criancinha,agora são todos paz e amor).
Não existe saída,mas eis que temos sim a solução,o herói caído,o herói que completa sua trajetória trágica,que se despoja dele mesmo para um bem maior e sendo assim questiona como Cristo na Cruz "Deus por que me abandonaste?":Capitão Nascimento. Neste capitulo ele sofre,pois sua família é colocada em xeque,sua corporação,sua fé,sua convicção,mas ele termina de pé,mesmo que abalado.
O longa é irresponsável no momento em que a política nao se apresenta como alternativa viável,o coronel do BOPE e seu batalhão são as únicas coisas prestáveis capazes de resolver a situação nacional, mas operando fora do sistema,não seguindo hierarquia,não seguindo as diretrizes governamentais pois tudo é podre.Um filme de ação razoável,se não tivessemos no país uma situação tão delicada como temos em termos políticos : corrupção de norte a sul e impunidade.Ela é real,e está aí por conta do sistema e do povo não politizado. Ao fazer Nascimento o paladino da virtude estamos abrindo brecha para algo assustador,um messias que venha nos salvar de nós mesmos.Exagero?Não,quando boa parte da sala vibra aplaudindo e gritando o murro que o capitão/coronel dá em um politico corrupto.Momento de catarse total e bem,já diria Bretch que conscientização e catarse não andam juntas.
O longa rende boas discussões éticas,politicas sobre nossa realidade para aqueles que vão assisti-los com olhar distanciado,mas quantos aceitam o personagem como um herói a ser achado na vida real?O golpe,Hitler,entre muitos outros episódios estão aí para provar.
A História acontece como tragédia e se repete como farsa,e estamos sempre atrás de príncipes,meus irmãos!

domingo, 17 de outubro de 2010

Como Esquecer


Como Esquecer
se insere numa nova safra de filmes nacionais que positivamente ampliam o leque de temas a serem abordados,neste caso o homossexualismo,tópico ainda timido em produtos nacionais cinematográficos,inexistente na tv (personagens gays castos sem uma vida afetiva digna de nota,assexuados não podem ser considerados).Por reconhecer esta parcela da população nacionalmente com elenco conhecido,fator que atrai publico,o longa já ganha pontos positivos,entretanto filmicamente deixa a desejar em vários aspectos.
O roteiro é adaptado do romance homonimo,os roteiristas optaram por manter a literalidade na versão cinematográfica o que torna os diálogos em alguns casos duros,engessados,e por também manter o fluxo de pensamento de Julia,a personagem principal, em voz off,dando um tom piegas e maçante em muitos momentos,por tornar tudo muito literal e repetitivo. É possível compreender de onde o fluxo de pensamento intenso vem,Julia é professora de literatura inglesa,o nome de Virginia Woolf é citado durante uma das cenas,vale lembrar que os romances da autora valem-se e muito deste diálogo do inconsciente,a grande dificuldade é como transformar esta voz interna em algo concreto na tela,uma maneira muito feliz foi a do longa As Horas,guardadas as devidas diferenças de estilo,história entre o filme ingles e o nacional,o roteirista deixou a força latente da personagem justamente para as atrizes,na interpretação,coisa que seria sim possível para Como Esquecer,pois a personagem mais bem construída e estruturada é Julia interpretada por Ana Paula Arósio,ao invés de tanta narração em off da atriz era possível deixar em nuances,em opções cênicas a dor da personagem; a atriz global mostra amadurecimento em sua interpretação e conseguiria bancar uma opção mais ousada de personagem.
Outro ponto negativo do roteiro são as lacunas deixadas,fios soltos que não se amarram,personagens jogados sem propósito,e o tom drama lésbico cliche impresso,dramático ao extremo,falta muitas vezes delicadeza na condução da história.
Apesar destas falhas reitero a importância de sua realização,ao entrar na sessão ontem a noite verifiquei o publico misto de héteros e gays,com predominância do segundo grupo,existia uma excitação normal na platéia,extremamente participativa,por ser algo novo e diferente de se ver em circuito nacional, poder ter a real identificação com aquele que esta na tela é algo mais raro para o publico GLTB ( toda história boa é universal,mas muito fácil quando se é hetero e todas as histórias de amor,drama são feitas neste padrão).


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Eu Matei Minha Mãe

Eu Matei Minha Mãe foi realizado por Xavier Dolan,um canadense de inacreditáveis 17 anos.Dirigiu,escreveu e atuou em seu primeiro longa,não o bastante o filme possui maturidade de gente grande,sem perder o frescor na ousadia de linguagem.
O longa está muito além da discussão homossexual presente nas resenhas,a orientação sexual do personagem é apenas um dos muitos aspectos que circundam a relação tumultuada com sua mãe.Quem nunca teve atritos com os pais que jogue a primeira pedra! O roteiro delicado,consegue de maneira imbricada dar conta da complexa relação entre pais e filhos,aqueles que se amam a cima de qualquer coisa,mas que nunca foi dada a opção real do não amor,o amor de mãe é o incondicional,o de filho também,mas como esta relação em que a escolha não é possível pode ser saudável? Xavier dá conta de mostrar as várias facetas do conflito,ora a mãe,ora o filho são vitimas e algozes de seus próprios caprichos. Amor e ódio são apenas dois lados da mesmíssima moeda.
A camera em planos médios e estáticos criam a sensação artificial nas relações,nada se move,estáticos como que posados os personagens se distanciam,não existe calor.Em contraponto a estas imagens o diretor cria escapes belíssimos e de açao,muitas vezes violentas.As aparencias não se encaixam nos desejos,muito mais cruéis,muito mais vivos,capturados em camera lenta. Para arrematar,a direção de arte é precisa,fazendo da casa dos personagens principais um espaço de sufocamento,de não pertencimento.
Saindo da sessão,ouvi a conversa entre dois amigos,um deles disse "imagina uma mãe vendo este filme?"Talvez fosse um interessante programa familiar...

sábado, 18 de setembro de 2010

Reflexões de um Liquidificador

É gratificante ver o cinema nacional se libertar da polaridade sertão-favela,pois se nos anos 60 existia uma estética muito precisa embasada num contexto político o cinema da retomada a subverteu transformando-a em fetiche, estes locais,esta condição brasileira banalizou-se completamente.
Reflexões de um Liquidificador se insere na safra de longas nacionais com vertente mais indie,que flertam com o absurdo,com o comico. O tal objeto é narrador e personagem principal junto com a ótima Ana Lucia Torres,uma dona de casa simpática que tem como confidente e cumplice seu velho liquidificador,dos tempos de dona de boteco juntamente com seu marido,Onofre. O filme é um delicioso thriller,no qual o mote é o sumiço do esposo de Dona Elvira.
O suspense,todavia,é apenas a desculpa para André Klotzel falar sobre existencia. O Liquidificador quando era apenas um objeto era mais feliz exatamente por ser inanimado,por ser ignorante das complicações do ser,ao obter consciencia o pobre tem de lidar com as consequencias de seus atos e de outros,ele aprende o que é desejo,morte,sobrevivencia. Não é preciso ir muito longe,a cozinha de uma casa de subúrbio já é o mundo.
Vale dizer que Reflexões de um Liquidificador é um filme de atores,com casting preciso,os personagens tipos, estranhos, dão o tom do longa,destaque para Ana Lucia Torres, Selton Mello como liquidifcador e Aramis Trindade como o bizarro investigador Fuinha.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O terceiro mundo vai explodir... E só as baratas sobrarão!

Revendo esta ótima animação no último Festival de Curtas de SP, resolvi escrever umas breves palavras, que ficam como dica para os que gostam de animação, documentário, Hqs e o que mais acharem de tema dentro do filme!

A questão da linha tênue que divide os campos do documentário e da ficção é um assunto recorrente ao se tratar de um filme considerado como um documentário de animação, como é o caso do premiado curta-metragem “Dossiê Rê Bordosa” (2008), do diretor brasileiro César Cabral.
O cineasta trabalha de maneira inusitada e criativa a narrativa, invertendo o que seria uma entrevista comumente empregada nos documentários em um depoimento típico do gênero policial de ficção. O gênero de entrevista tornou-se quase que uma premissa narrativa no documentário contemporâneo, principalmente entre os brasileiros. Nesse contexto, muitos cineastas a trabalham de forma inventiva, até mesmo a contestando ou mesmo subvertendo sua fórmula.
O documentário animado vem ganhando espaço nos últimos anos, não só por experimentar na forma, mas também inovando na própria linguagem do documentário. Só para citar, temos os conhecidos longas “Persépolis” (2007), da cineasta e quadrinista iraniana Marjorie Satrapi (baseado em sua HQ homônima); “Valsa com Bashir” (2008) do israelense Ari Folman, sendo que ambos partem de narrativas biográficas. No que diz respeito aos curtas e sua maior liberdade para experimentações, temos um ótimo exemplo brasileiro de “O Divino, de repente” (2009), que vem colecionando prêmios nos festivais.
Com um tom investigativo, “Rê Bordosa” colhe depoimentos de personagens reais, que são substituídos ao final por bonecos de massinha filmados com a ótima técnica de stop motion. Mais do que pensar no conteúdo da história que nos é contada, “Rê Bordosa” nos presenteia com uma forma muito bem elaborada do como essa se desenrola.
Influenciado por diversos elementos importantes na história de nosso cinema, seu mote é investigar o assassinato da famosa personagem fictícia das “tirinhas” brasileiras (que dá titulo ao filme) em 1987 – em seu auge de popularidade – por seu criador: o cartunista Angeli. O filme se estrutura através de entrevistas realizadas com o próprio Angeli e com pessoas que conviviam com o mesmo naquela época, além de reconstituições que rememoravam o caso, para tentar desvendar o crime.
A narração em voz off tem uma referência clara ao cinema marginal paulista dos anos 1960 (por sua vez influenciado pelos programas policiais da rádio nos anos 1950), mais especificamente ao “Bandido da Luz Vermelha” de Rogério Sganzerla. O underground paulistano do clássico marginal cai muito bem nesse diálogo com o submundo dos anos 80 característico das histórias e personagens de Angeli, sabiamente transposto para a misé-en-scene de “Rê Bordosa”.
Há uma sequência dedicada ao personagem Bob Cuspe – testemunha ocular do crime – em que a personagem (tratada aqui do mesmo modo que as personagens reais) ao narrar os fatos testemunhados, tem sua memória ativada e vemos a reconstituição do assassinato: um cenário soturno e literalmente do submundo, onde Bob transita pelos esgotos da cidade sob uma trilha punk bem periférica, num clima de cinema noir decadente.
Se o crime foi desvendado pelos investigadores, nada sabemos, mas podemos dizer que a animação empregada como recurso estético deste que é mais que um documentário, foi a melhor opção e, mais que isso, a principal atração desse bem realizado curta.

domingo, 5 de setembro de 2010

REC 2


Em 1999 os responsáveis por a Bruxa de Blair assombraram publico e industria com um filme barato e com belo marketing. A idéia era realmente genial,aproveitar o uso cada vez mais comum de cameras de video caseiras para fazer um filme de terror,ou melhor um documentário,pois todas as imagens foram gravadas pelos personagens e toda trama foi feita como um registro real de algo muito macabro que teria acontecido numa floresta norte-americana. Florestas já são assustadoras por si por serem o local das forças da natureza,do desconhecido,onde o homem não tem o controle,junte cenas de pavor de algo que nunca tomar forma,nunca se manifesta na frente da camera,sendo mera sugestão e voi lá,temos um ótimo filme. Alguns anos mais tarde, a industria cinematográfica retoma a idéia original de registro pensando agora no boom da internet e documentaçao exaustiva na rede, o que não está no youtube,não existe,já está sentenciado. A partir desta premissa e voltando-se para a experiencia bem sucedida do final dos anos 90,os filmes de terror começam a sair da ficçao para quererem-se reais,ou seja o sobrenatural não mais como parte da fantasia,mas como algo possível,o que por si só já seria assustador,afinal é o grande medo,saber que o Mal não é apenas história da carochinha. Rec 2 faz parte desta leva de longas de terror.
O longa espanhol abusa do registro documental,o olhar é fragmentado na perspectiva de vários personagens que detém o poder da imagem,eles portam cameras de qualidade diversas,entretanto seu uso é tradicional, a narrativa poderia ser pulverizada na perspectiva destes diversos olhares,entretanto se matem linear,salvo raríssimas excessões onde o diretor consegue explorar um pouco melhor sua idéia estética, no primeiro registro dos personagens adolescentes quebrando o ritmo do filme,com o policial encurralado no banheiro,somos testemunhas passivas assim como os outros de sua situação, uma ou duas imagens das cameras dos capacetes dos soldados,criando a impressão da camera subjetiva do video game na qual a arma sempre aparece e os movimentos são ageis e bruscos e o aparelho com infra vermelho que grava no escuro que envoca a discussão do dispositivo fotográfico ou videografico como capaz de captar o invisível, de reter a "alma".
Com toda esta parafernália Rec2 é obssessivo em criar uma atmosfera de real,do registro,tudo é preciso ser dito para camera e um dos personagens diz a cada dois minutos que absolutamente tudo precisa ser registrado,arquivado. Nem com muita boa vontade compramos a idéia do diretor. Só verbalizando,explicando para tentarmos entender porque o longa foi feito. Uma mistura de filmes de zumbi com Exorcista e O ChamadoItálico, o filme espanhol não chega a lugar algum,fica dando voltas em torno da documentaçao do acontecimento e de um objetivo fraco que não se sustenta nem por dez minutos,conseguir o sangue da zumbi/possuida causadora primordial de toda a tragédia.


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

No balanço do cineasta

“O cinema falado é o grande culpado da transformação...” De quem é essa canção?
Quem é Roberto Kelly? Um sambista apresentador de programa de TV?
Quem é André Weller? Um cineasta sambista?
O que isso importa? Sinta o balanço da música. Deixe o gingado inusitado do piano te levar...
A conversa ritmada entre o cineasta-músico e o músico-apresentador acontece no palco de um teatro vazio. E é atrás de um piano (e não de uma tão tradicional mesa de bar) que o diálogo falado/cantado se desenrola no filme “No balanço de Kelly”, do carioca André Weller.
Em meio à profusão de produções documentais nacionais sobre músicos de nossa canção, eis que ainda há fôlego (vindo diretamente do diafragma) para a criatividade. Criatividade esta que acontece simples assim: basta seguir a música...
O documentário aqui poderia ser mais um dentre tantos outros musicais, mas o diretor o rege de tal forma a deixá-lo leve, aliás, muito na cadência de seu personagem, que até ensaia um diálogo com a câmera, tal como o fazia nos tempos áureos de seu programa televisivo especializado no carnaval carioca.
Hey! Mas atenção! Se você quer fazer documentário musical no Brasil, pegue logo seu músico ou banda, pois logo todos terão seu filme e daí o tema acaba!
Ah o Rio de Janeiro em tempo de carnaval! O povo em êxtase toma as ruas a cantar as marchinhas de todo o sempre... E naquele tempo em que homem não podia ter cabelo comprido, o garçom cabeludo entrega “de bandeja” à inspiração para a marchinha do criativo Roberto Kelly... Será que ele é?
Pois é, meu irmão, a propósito, aquela canção do início é de Noel Rosa!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Dois Mundos

Antes de começar a escrever este texto fecho os olhos e me deixo ser levada pelos sons que tomam conta deste sábado calmo. Um passarinho em alguma arvora próxima pia, alguns carros passam na rua,uma moto com o motor desregulado faz um barulho insuportável, longe consigo distinguir um ônibus,minha mãe mexe em alguma coisa na cozinha,nos talheres provavelmente por causa do barulho,metálico, meu pai passou no corredor arrastando seus chinelos,som arrastado,como vento baixinho e agora a TV está ligada,parece uma melodia,estaria meu pai vendo um de seus filmes de cowboy?ou seria apenas Tom e Jerry? Você lendo o texto, experimente esta sensação, ouça o que esta ao seu redor,e agora imagine e se todo este barulho desaparecesse? E se só te restasse o silencio?

“Dois Mundos” retrata o universo dos surdos, não é um documentário de imagens,mas de sons,sinestésico. A diretora Thereza Jessouroun explora de maneira inventiva o seu objeto,o ouvir. Já de inicio,nos causa estranheza o som altíssimo da projeção,amplificado ele dói aos ouvidos,atordoa um pouco. Gostaria que fosse um pouco mais baixo,penso eu num primeiro momento,mas quem já teve até uma leve inflamação no ouvido sabe que dentro de locais fechados cria-se como se fosse um vácuo, o som é abafado, e sendo mais baixo,conseguiriam ouvir ao documentário as pessoas com problemas auditivos?Na fila para a sessão noto na minha frente um grupo conversando em libras,um papo animado pelas expressões e pela velocidade de seus gestos,uma conversa silenciosa, fiquei imaginando como seria ir ao cinema e não ouvir nada,qual a percepção de um filme,todo construído para o uso do som sem este ,as imagens por si só e os atores bastam?

Neste documentário não, a presença do som é onipresente, alto, abafado,eco,todas as maneiras de se ouvir e se sentir o barulho, pois quem é surdo pode não ouvir aquilo que está sendo escutado pela maioria,mas ele sente,afinal som não são ondas propagadas no espaço?Ele vibra,eles sentem a vibração,coisa que nós ouvintes perdemos um pouco a sensibilidade de perceber, Thereza coloca a sala de exibição para vibrar com a chegada de um metro na estação,com a musica alta de uma discoteca.

Partindo de vários depoimentos de jovens surdos, a diretora cria um panorama rico de impressões deste mundo,como cada um se relaciona com o silencio e com o barulho quando com o aparelho,como cada um ouve.Eles ouvem diferentemente,os sons não são tão claros,as vezes os menores sons não são captados,mas nós ouvintes captamos, estamos abertos para estas pequenas coisas? Uma das garotas disse que ficou maravilhada em saber que seus passos na areia produziam barulho,podemos ouvir nossas próprias pegadas,quantas vezes você ouviu o barulho de seus pés? A mesma entrevistada relatou que por viver no silencio inventava os sons das coisas. O poeta Manoel de Barros diz que “tudo que não invento não existe”,ela inventou o mundo a sua maneira,preencheu lacunas,o som existe como nós o percebemos,o mundo existe a nossa maneira.

“Dois Mundos” não trata de maneira complacente os surdos, não os transforma em vitimas, eles vêem,ouvem o mundo de outra maneira,nem pior,nem melhor,apenas diferente. E se por algum momento o espectador ficar tentado a se compadecer do grupo,muitos deles nos lembram que ouvir excessivamente,tudo, a todo momento,sem trégua pode ser desgastante, “meditar” um pouquinho,ou seja retirar o aparelho e se apartar do mundo sonoro, pode ser muitas vezes algo revigorante. É verdade,enquanto termino este texto,um carro pára em baixo da minha janela com o som alto, sou obrigada a ouvir funk e sertanejo contra minha vontade,o passarinho em alguma arvore próxima silencia, e sou deixada com este barulho nada agradável.

Chyntia ainda tem as chaves

O filme de Gonzalo Tobal é delicado e assertivo. Cynthia ainda permanece com as chaves do apartamento que dividia com o namorado e se aproveita deste fato para passar seus dias em companhia de suas memórias de uma vida feliz. Perdeu-se de si mesma, sua vida foi interrompida com a separação e portanto se apega com afinco àquele espaço ausente de vida a dois,mas que para ela representa seu amado e seus momentos. Cozinha,ouve,musica, dorme, usa as roupas do namorado, e tudo isto com o cuidado de apagar sua existência naquele apartamento,traz a comida que cozinha,os produtos de limpeza ,arruma a cama como a encontrou. Cynthia é como um fantasma,uma sombra.

Absolutamente tudo no curta corrobora para a sensação de deserto que a personagem tem em si, o silencio, a musica melancólica do Smith, os planos abertos que transformam o apartamento em um local muito maior e Cynthia em algo pequeno se esforçando para ocupá-lo. O vermelho presente nela contrasta com as cores frias do espaço. Quanto amor desperdiçado,diz ela em determinado momento.

Entretanto algo incomoda no curta, não é porque Cynthia está melancólica,desgostosa da vida que a personagem não deve ter vida. Minha professora de interpretação costumava dizer que a personagem pode estar triste,a a triz não. É justamente o que ocorre. Falta presença cênica, tudo é esmaecido, os gestos são fracos, os silêncios muitas vezes vazios,não se sustentam. A cena em que prepara a comida,em que corta os pimentões carece de força, suas mãos estão como mortas ao segurar a faca,ao cortá-los , e saberemos ao final do filme a força e a importância que este jantar tem na sua vida. Sua voz é monocórdia, um problema já que a personagem assume a câmera desde o começo,estabelece um monologo conosco de fato, o tom melancólico faz com que o filme perca um pouco das nuances.

Aqui se coloca um problema longe de ser exclusividade de “Cynthia ainda tem as chaves”,com o orçamento enxuto e tempo de filmagem idem, é preciso se perguntar até onde os curtas conseguem bom elenco e tempo para prepará-lo,e se isto muitas vezes não acaba por prejudicar um bom filme. Como resolver este dilema é algo a se pensar uma vez que o curta tem todo um caráter experimental que se perde com os caros longas metragens.Entretanto com um roteiro tão fantástico como este, Gonzalo Tobal poderia apresentá-lo a qualquer atriz que com certeza toparia na hora. Quem não gostaria de ganhar um presente destes?

Festival Internacional de Curtas Metragens

Hoje foi o encerramento do Festival,os meus textos no tablóide foram sobre os filmes : Intervalo,Tanto,Cynthia ainda tem as chaves e Ninjas. Claro que com o tempo curto para a produção dos textos alguns outros curtas vistos ficaram de fora,pretendo agora publicar criticas a respeito. Começo por Cynthia ainda tem as chaves,pois foi feito uma edição que ao meu ver deixou alguns pontos interessantes de fora,seguido por Dois Mundos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Festival Internacional de Curtas

Hoje começa oficialmente o Festival Internacional de Curtas de São Paulo,estou trabalhando no tablóide do festival que será distribuido na festa de encerramento. Serão dias intensos. Existe também o blog atualizado pelos criticos veteranos.
Vale a pena conferir todo o site da Kino e dá um giro pelo festival http://www.kinoforum.org.br/

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Mary and Max

Quem vive sem amigos?ou melhor o que são amigos?A belíssima animação australiana Mary and Max foca na relação um tanto improvável entre uma garotinha australiana e um quarentão americano,os dois são sozinhos e irão estabelecer uma delicada amizade através de cartas. Tudo o que possuem um do outro são suas palavras e os anexos enviados a cada correspondencia.
Adam Elliot é o artista multifacetado responsável pelo longa,além de produtor,é o roteirista,diretor e designer dos personagens. Como é colocado no site do filme, diretor e sua equipe tem como referencia alguns fotógrafos para compor a atmosfera da história. Nova York de Max é preta e branca,bem contrastada,fria e triste. A Austrália de Mary é toda em tons de marrom,sua cor favorita, sem vida,apagada. A única cor viva presente em objetos muito específicos é o vermelho,o elo de ligação entre os dois,em raros momentos a paleta de cores de cada um invade a do outro,um pouco de cada mundo que se encontra.
O filme narrado em off começa contando um pouco de cada,de seus gostos,mas ainda é algo impessoal,não aprofunda nos personagens, iremos descobrindo mais da dupla com o estreitamento da amizade,somos cumplices desta jornada, e assim observamos como esta relação os afeta profundamente,os transformando,entretanto a essencia de cada um permanece até o fim,aquilo que os fez continuar a escrever por longos anos.
Num primeiro momento pode parecer um filme melancólico pelo isolamento de ambos,pela dificuldade de adaptação ao mundo exterior,mas ao continuarem o diálogo e se apegarem um ao outro eles lançam base para a consolidação de uma amizade e como tal feita de altos e baixos e que os joga no mundo real,com tudo de bom e de ruim que possa ter.
Para deixar o longa ainda mais interessante o diretor contou com atores renomados para dublagem, Phillip Seymor e Tony Colette dão vida a dupla protagonista lhes conferindo um aprofundamento cenico muito dificil de se ver em animação.
Mary and Max faz qualquer um sair do cinema pensando seriamente em escrever uma carta para o primeiro estranho que lhe cruzar o caminho.

sábado, 7 de agosto de 2010

A Prova de Morte

Finalmente chega às telas brasileiras A Prova de Morte,filme de 2007 de Quentin Tarantino,que faz parte de um projeto maior, Grindihouse, entre o diretor americano e Robert Rodrigues. Os dois amigos prestam uma homenagem aos filmes de horror B da década de 70, cada um dirigiu uma parte e infelizmente estas foram lançadas como independentes uma da outra mundialmente,o que criou este hiato entre o filme de Rodrigues lançado no país faz tempo e o de Tarantino.
Em A Prova de Morte o diretor experimenta livremente sua linguagem cinematográfica,seus traços estão lá : o underground, os rincões norte-americanos,a cultura negra,o pop, a violencia, a ironia, a musica,os diálogos ácidos e banais,mas todos potencializados. A edição do longa,ao invés da agilidade pop de seus outros filmes, é cuidadosamente pensada para expandir o tempo,alargá-lo de tal forma que ficamos ansiosos e inquietos procurando onde entrará o sangue,a violencia. Tarantino sabe disso,ele brinca com nossas espectativas e quando a ação esperada acontece ela é rápida e impactante como se o fosse no momento real. Todos os enquadramentos e tempos são pensados como os movimentos de um predador a espreita de sua presa, ele dá-lhe tempo,sem pressa a cerca,se diverte com a situação. Somos colocados na posição de Stuntman Mike,papel de Kurt Russel, o serial killer que mata suas presas,sempre mulheres,com uma arma poderosa,seu carro envenenado.
A Prova de Morte é ,apesar deste jogo de captura, um filme extremamente rápido,quando nos damos conta ele já terminou e estamos contaminados pela adrenalina da caça. Um ótimo exercício cinematográfico de Tarantino,que assina também a direção de fotografia.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dzi Croquettes

O documentário parte da história pessoal da diretora Tatiana Issa,filha de um cenógrafo que acompanhou os Dzi Croquettes no final dos anos 70,para contar a história da irreverente trupe vanguardista brasileira. A partir de registro em super 8 de época e entrevistas com os próprios integrantes e pessoas que conviveram com o grupo durante sua existencia Tatiana devolve aos holofotes os Dzi Croquettes. A partir de sua narração em off inicial na qual explica que para ela, muito pequena, aqueles homens pintados e purpurinados eram palhacinhos ela desenvolve seu documentário. Ou seja existe neles ingenuidade,pureza, empatia, o lado dubio da máscara, artistas enfim a procura da criação,da vida, da alegria através do riso,do grotesco,do incomodo.
Uma época é resgatada, a partir das entrevistas com quem viveu os efervecentes e dificeis anos 70 a diretora passa a limpo um período da história brasileira, o contexto político e cultural do país é explicado as vezes de maneira didática porém nunca enfadonha pois tratam-se de depoimentos vivos e cheios de carga emocional de testemunhas daqueles anos. Para as novas gerações que não conhecem os Dzi Croquettes é como se eles nascessem na tela,naquele momento,um tempo passado,mas que consegue estar vivo na película.
A visceralidade do grupo é sentida no publico e conseguimos compreender o impacto de proporções enormes que eles causaram na cena brasileira,no comportamento da sociedade,entretanto estupefatos nos perguntamos como aqueles palhacinhos underground que encantaram de Elis Regina a Josephine Baker,passando por Lisa Minelli,puderam ficar esquecidos na memória brasileira por tanto tempo.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Le Petit Nicolas



Basedo nas histórias de mesmo nome, de autoria de René Gosciny ( mesmo autor de Asterix) e desenhos de Jean Jacques Sampé, o filme conta as aventuras de Nicolas e seus amigos na França da década de 50.

O longa se assemelha a Amelie Poulin pela fotografia vibrante e pelo tom da narrativa que cria uma atmosfera onírica,mas ultrapassa o filme conterraneo pelos tipos criados, existe algo de felliniano nos personagens, engraçados, desenhos materializados,às vezes exagerados. Dentro da sala de aula cada um desempenha um papel,o nerd,o desatento,o rico mimado,o gordinho,todos muito caracterizados,já o próprio Nicolas é um garoto comum,tranquilo,sem qualquer caracteristica muito marcada. Ele é o narrador da história, sua posição mais naturalista em relação aos demais pode ser vista como memórias de sua infancia,nós tendemos a nos ver de maneira neutra e aumentamos as características dos que estão em nosso entorno. Assistindo ao filme quem não consegue identificar em seus próprios arquivos muitos daqueles tipos?

A realidade infantil é mágica, coisas muito banais para adultos causam grande espanto e maravilhamento por parte dos pequenos,nada é impossível. Seria mais interessante utilizar a expressão realidade expandida, capaz de enxergar as pequenas belezas do mundo, do que fantasia para se referir ao universo infantil,pois nada é inventado para eles,tudo é muito real.Uma das cenas que explora de maneira muito divertida este universo é quando Nicolas e seus amigos tem uma idéia brilhante para conseguir um dinheiro que necessitam. Um deles aparece com um gibi com a primeira história de Asterix, a pequena aldeia dos gauleses resiste aos numerosos e poderosos romanos graças à poção mágica de Panoramix.Eles retiram o elemento de ficção dos livros e o transportam para o mundo real,criam eles proprios a famosa poção e a vendem; para mostrar que funciona elegem um menino franzino como exemplo,ele bebe o liquido e os garotos pedem para que levante a combi abandonada alguns metros dele,o que o garotinho e seus amigos não sabem é que Nicolas e seu grupo colocaram muitos pesos pendurados do outro lado do carro,não visivel para platéia,qualquer empurrão destabilizaria o automóvel e ele tombaria,é exatamente o que acontece. O feito extraordinário faz com que muitas crianças procurem o bando para adquirir também sua força. Os que tomam a poção tem certeza que são tão invenciveis quanto Axterix e sua aldeia.

Leve,ironico e inteligente Le Petit Nicolas é um filme que serve bem a todas as idades,uma boa alternativa à medíocridade que muitas vezes as crianças são expostas.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Guerra ao Terror

Muito se falou de Guerra ao Terror quando de filme sem nenhuma importancia,tendo sido lançado diretamente em dvd aqui no Brasil, se tornou o longa do momento com 9 indicações ao Oscar e levou 6 estatuetas para casa batendo o favorito Avatar. Isto significa que o filme é melhor do que seus concorrentes ou na verdade os candidatos eram fracos e pode ter sido uma opção política,como foi a Palma de Ouro de Michael Moore?Assistindo ao longa, a segunda opção parece ter mais sentido. Trata-se de um bom filme de guerra,mas não vai além disto.
A camera digital na mão lhe confere um ar de documentário,não quer como os caros longas de guerra espetacularizar o conflito,mas sim mostrar o lado humano dos soldados que cumprem sua missão. Se deter naqueles que vão para o campo de batalha não é nada novo, temos pelo menos meia duzia de filmes sobre Vietnã que se detém sobre este assunto,o próprio conflito no Iraque serviu para alguns longas com este tema como Soldado Anonimo,mas ao contrário dos desarmadores de bombas que enfrentam uma dura rotina dia a dia, estes ficaram um uma espera eterna pelo combate. Séries de tv norte-americanas também trataram de maneira mais profunda ou superficial a dureza de ser um combatente,os efeitos psicológicos provocados naqueles que tem suas vidas ameaçadas a cada segundo e como é a adaptação à vida comum. Trata-se de um assunto polemico,com consequencias devastadoras para a sociedade norte-americana e é legitimo que queiram esgotar o assunto.
O roteiro tem seu ponto forte em deixar explícito a tensão constante daqueles soldados que são mandados para o outro lado do Oceano em nome de uma democracia,mas são visto como inimigos por toda a população e pior, veem naqueles que devem proteger o inimigo em potencial. Estão no Iraque pelos Iraquianos,mas tem medo,não exergam particularidades,apenas generalizam. Qualquer movimento em falso pode custar a vida. Uma sequencia que demonstra a complexa relação entre os dois lados é quando chamados para desativar uma bomba,os tres soldados levam junto um coronel médico que não está acostumado ao campo de batalha, enquanto os subalternos entram no prédio tensos para desativar mais bombas,a alta patente fica do lado de fora conversando cordialmente com os nativos e pede para que eles saiam do raio de ação do exército pois pode ser perigoso,sua atitude é oposta a de todos os soldados ao longo do filme que já ameaçam com suas metralhadoras qualquer um que se aproxime, sua recompensa em tratar bem os iraquianos é explodir devido a uma bomba caseira deixada pelos homens. Isolada a cena pode parecer propaganda pró ocupação, todos os iraquianos são maus,mas dentro do contexto narrativo deixa toda a situação mais embolada.
O longa perde pontos justamente por causa do personagem principal, o típico "white trash",sem lugar na sociedade americana, é a versão século XXI dos cowboys,durão, pronto para briga e "gente boa",vive da adrenalina e como não tem nada a perder é o soldado ideal para uma guerra.
Sim trata-se de uma crítica contudente ao "american way of life",o sol não é para todos e são estes que por não terem nada a perder arriscarão suas vidas. Entretanto ao final do filme o discurso politico vai ganhando mais peso do que o cinematográfico e acaba por diminuir sua força.


sexta-feira, 11 de junho de 2010

A mulher de todos

Um prenuncio da porno-chanchada A Mulher de Todos é o segundo longa de Sganzerla. Acompanhamos as aventuras sexuais e Angela Carne e Osso. Não existe um fio narrativo condutor, os amantes perpassam em sua vida e ela como uma boa vamp devora a todos.
Um filme que beira ao non-sense,extremamente viceral.
Sganzerla continua utilizando-se da narração em off para ponturar o filme. Experimenta a fotografia p&b, colore o filme de vermelho e azul como os antigos filmes mudos.
Uma crítica ao individualismo extremo da sociedade "boçal" daquele começo dos anos 70, ao hedonismo exarcebado, como o narrador coloca só existe liberdade individual se existe a coletiva.

Documentário

Primeiro curta de Sganzerla, Documentário é uma homenagem ao cinema. Dois amigos flanam pelo centro de São Paulo sem saber o que fazer,falando de musica,quadrinhos e principalmente cinema.
Se Sganzerla dará um pouco mais tarde uma entrevista dizendo ser preciso destruir Godard neste filme o cineasta frances é referencia,no flanar da camera, no consumo de notícias e cultura pop pelos dois personagens amigos,no carater predominate discursivo do curta.
Um registro da metade da década de 60 brasileira,da juventude um pouco perdida que ve a revolução como maneira de evitar o tédio,que não ve o cinema como manifesto político ( um dos personagens diz que o cinema italiano já era) mas uma maneira de se expressar,não importa se com recursos ou não.
O que conta conclui um dos garotos é o que está na tela.

Ocupação Rogério Sganzerla

Desde o dia 8 de junho o Itau Cultural apresenta a Ocupação Rogério Sganzerla com exposição,filmes,debates e conteúdo online,para saber mais basta entrar no hotsite do instituto.
O Cenas Escolhidas fará um breve relato dos filmes exibidos na mostra.

domingo, 30 de maio de 2010

Alice no país da tecnologia

Nesta edição da revista Aurora do NEAMP-PUC coordenado por Miguel Chaia tem uma critica minha sobre Alice no País das Maravilhas do Tim Burton. Esta edição de maio é totalmente dedicada a novas mídias.

http://www.pucsp.br/revistaaurora/ed8_v_maio_2010/

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Nosferatu no Brasil

Hélio Oiticica e Ivan Cardoso tinham a idéia de fazer cinema de terror no Brasil, trazer o trash,o underground para a estética brasilis. Cardoso realiza este desejo através de seu filme super oitista, Nosferatu no Brasil, de 1971. Torquato Neto interpreta o famoso vampiro nesta versão pop e divertida.
Dividido em duas partes, o filme foca as andanças de Nosferatu à procura de suas vítimas. O personagem flana pelos espaços,perdido, com foco apenas no sangue,ou seria no sexo?Afinal todas as presas são mulheres sensuais e as pulsões de sexo e morte andam sempre juntas, ao contrário dos vampiros atuais representados de forma sedutoras,lindos, Nosferatu é feio, tosco com sua capa de fantasia,mas é bom de lábia, malandragem carioca adquirida com sua estadia na Cidade Maravilhosa.
Filme mudo, Nosferatu no Brasil narra através de imagens e alguns poucos letreiros que apenas situam o personagem no tempo. Começa em p&b no século XIX com o vampiro tentando seduzir uma garota e sendo descartado, neste caso ele terá de suar literalmente atrás de sua presa, ele a persegue,correndo por um jardim de maneira desajeitada até agarrá-la. No outro momento do filme,já passando férias no Brasil da década de 70, onde as cores explodem na tela, Nosferatu começa a entender a ginga brasileira, e aos poucos ao invés de perseguir vai conquistando suas mulheres,comendo uma a uma para terminar sua estadia rodiado por vamps numa cena de bacanal.
Ivan Cardoso faz um filme cheio de referencias pops, quadrinhos,filmes B de terror, trilha rock´n´roll e jovem guarda, toda esta "geléia geral" como diria Torquato Neto traduzida na malandragem e ginga carioca, ao invés do vampiro que sofre por sua amada, este Nosferatu conquista todas.
O Super 8 afirma a estética tosca sem orçamento, tudo é precário,os letreiros escritos à mão,os atores são os amigos, o figurino comprado em loja de fantasia,o sangue catchup, as locações são externas, as ruas,mostrar o cotidiano daquela cidade. Cardoso e Oiticica tiveram uma grande idéia para solucionar o problema de fazer um filme de vampiro sem orçamento,ou seja sem condições tecnicas de se filmar à noite,assumiram a luz estourada da manhã carioca e apenas adicionaram um letreiro : onde está dia ve-se noite. Apelam assim para a imaginação do espectador, é um filme ludico, uma brincadeira, e retiram do cinema a aurea do real.

domingo, 11 de abril de 2010

O Esplendor do Martírio

Frases em um papel. Um poema? Um manifesto?Todas desconexas,ou não? Assim começa o filme em Super 8mm de Sérgio Péo,takes de pedaços amassados de papel escritos a mão. O filme em si é um poema, de imagens. Registros de uma cidade vazia, arquiteturas imponentes revelando o progresso,mas qual progresso?O tal da ordem?
Esplendor do Martírio é de 1974, ano da “lenta,gradual e segura” abertura política do general Geisel,uma promessa frente às barbaridades do AI5 mas que se revela neste primeiro momento um desastre pois a linha dura não cede,e sim aumenta o cerco. Pirotecnia do governo?Em uma das primeiras cenas Péo filma um negro vestido de forma extravagante cercado por alguns populares, ele cospe fogo e se contorce, seu combustível está em uma garrafa de Coca-Cola,ela merece um close, por que não?Estamos já bem acostumados a cultura norte-americana, para o bem e para o mau ( a CIA não foi braço direito e esquerdo das ditaduras latino-americanas, com medo da influencia cubana?). Faz alguns anos que Caetano Veloso tomou sua Coca- Cola e sua alegria de cores foi-se embora. Os tempos são outros, sobrou o vazio, das ruas,da esperança, dos projetos. Muitos foram para o exílio,outros ficaram e sofreram na própria carne, seriam mártires?Temos nosso personagem herói, muito magro, de cabelos longos,como Cristo, e vestido todo de vermelho ( cor do sangue,cor do inimigo comunista), ele vaga pela cidade fantasma,dança com sua arquitetura. Uma garota abre cartas, um punhal e uma luva militar,cada um de um lado da linha desenhada com tinta branca da avenida. Seria este seu destino,a luta?Ele o encontra em um ato solitário e simbólico. De frente para praia existe uma estátua, a mesma que aparece alguns takes antes em um jornal onde se lê “monumento ao herói”.Monumentação da História. Quem detém o poder cria imagens oficiais, a Verdade. No caso de uma ditadura militar é preciso se perguntar que herói está sendo construído.Se o herói representa um ideal,que ideal é este a ser perpetuado por uma estátua na orla ? Algo que entra em choque com os ideais do herói do filme. Sozinho ele ataca o monumento de forma quixotesca, mas ao invés de parecer violento, se assemelha mais com um ritual,uma dança em volta da figura branca, a câmera acompanha como observador a luta, em câmera lenta vemos o herói se debater contra o monumento depois contra um guarda que vela pela integridade da figura. Ele é preso e levado por uma viatura, poucos transeuntes assistem a cena. O herói e o anti-herói, quem é quem neste jogo de cenas?
Péo termina seu Esplendor do Martírio com cenas de flores, carregadas pela jovem cartomante, e jogadas em um espaço com papéis escritos. Remetem à sepultura. “For long you live and high you fly, but only if you ride the tide, and balanced on the biggest wave, you race towards a early grave”. Um trecho de Breathe, música do album Dark Side of the Moon, que toca inteira no filme juntamente com outra faixa do mesmo disco, Money. Elas criam o clima do curta, pontuam, a sensação de psicodelia criada pela musica juntamente com imagens em câmera lenta ou que esgarçam o tempo nos dão uma noção de irrealidade em algo muito real, a ditadura. Sabendo que os filmes de super 8mm são registros do cotidiano, atos performáticos, é impossível não ficar incomodado com a prisão do jovem pois não se trata se uma cena fictícia, alguém foi preso de verdade. Neste momento somos confrontados com a realidade e as flores logo a seguir dão um tom melancólico à dança ritualística das imagens e do herói. A ultima cena,uma provocação, escrito em letras de forma ONDE VOCE ESTÁ?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Os Inquilinos

Filmes novos de Sérgio Bianchi são sempre acontecimentos pois muitos torcem o nariz de saída antes mesmo de sua exibição. Não para menos, o diretor sempre tão polemico em suas obras costuma receber reações extremadas do público e crítica,reações estas iguais ao clima criado por ele em película, tudo é “oito ou oitenta”, não existe meio termo, o que torna toda história fraca e pueril. Os Inquilinos vem sendo saudado justamente como uma mudança de rumo, o encontro de equilíbrio na sua forma violenta de ver os acontecimentos sociais brasileiros, oprimidos e opressores,muito distintos e separados. Entretanto trata-se mais de uma promessa do que um ato concreto de fato. A boa idéia de montar um terror psicológico com forte carga social esbarra no didatismo sempre presente em seus filmes e na visão simplista dos acontecimentos.
Em uma casa temos a “família de bem”, o chefe de família honesto e trabalhador com dois filhos, na casa ao lado novos vizinhos, jovens e arruaceiros. O longa se passa no mesmo período quando ocorreram os ataques do PCC em São Paulo, 2006,mas aqui a facção recebe o nome de Partido, dando margem a ambigüidade de seu propósito.Quem estava na capital paulista durante o período sabe o terror infligido pelos criminosos a população, principalmente na periferia onde os ataques foram piores, é este clima de medo e insegurança que Bianchi quer explorar na dualidade entre os vizinhos. A família morre de medo da favela, tão perto fisicamente de seu bairro, invadir de fato suas vidas e os novos moradores vindos de lá tornam esta ameaça mais concreta.
Os Inquilinos caminha bem enquanto o terror de ter ao lado possíveis marginais é apenas uma suspeita. Vemos Walter, o patriarca, definhando cada vez mais por não saber como poderá proteger sua família de um perigo tão eminente,por ser tão impotente frente a realidade violenta que o cerca. O espectador se coloca em seu lugar, a duvida crescente sobre a segurança da casa torna-se a do publico, o medo de não reconhecer o outro,de não identificar quem mora ao lado. Entretanto esta realidade hiper aumentada pelas lacunas deixadas pelo roteiro na primeira metade da trama dissipa-se quando descobrimos que sim, os vizinhos são uma ameaça real. A partir deste momento a boa discussão sobre como a cidade grande e o abismo social não permite o contato com o outro perde sentido e torna-se a crônica de uma tragédia anunciada.
Soma-se os clichês abundantes como a cena em que Walter urina em torno de seu muro enquanto olha para seu cachorro,ou o personagem de Caio Blat como alter-ego do diretor, dando voz as mazelas da periferia.
Bianchi tem uma boa idéia, entretanto é incapaz de deixar de lado a verborragia.

domingo, 21 de março de 2010

A Single Man


Belo. Absolutamente belo. Este é A Single Man dirigido pelo estilista Tom Ford em sua primeira empreitada no cinema. Sufocante também, como a vida do personagem principal depois da morte repentina de seu marido há muitos anos. Passado nos liberais mais nem tanto anos 60, o longa mostra um dia específico na vida do professor universitário que perdeu seu grande amor numa tragédia alguns meses atrás e nem pode exteriorizar seus sentimentos afinal a conservadora sociedade norte-americana é aparencias e ele precisa mante-la impecável, como seu terno terno bem cortado,seu óculos estiloso,seu carro chique. Ford consegue imprimir este tom quase impossível de se manter uma vida real em todos os detalhes, na fotografia ora esmaecida,ora vibrante, em cada escolha meticulosa de planos, na direção de arte,nos figurinos e nos corpos, Adonis e Afodites todos os seres humanos. Não é à toa, a comunidade gay vive também de aparencias, o belo é fundamental e ele está presente em cada frame até se tornar insuportável.
Colin Firth está inacreditável no papel principal, tão humano e ao mesmo tempo tão preciso e Julienne Moore dispensa qualquer comentário na pela da amiga rica decadente.

sexta-feira, 19 de março de 2010

A Fita Branca

O homem não é bom. Esta é a premissa de Michael Hanake em todos os seus filmes,não seria diferente em A Fita Branca. Numa pequena comunidade protestante alemã pré-primeira guerra crimes sórdidos acontecem sem que a população descubra os culpados. Se nos outros longas do diretor assistíamos estarrecidos a violencia brutal cometida pelos personagens,aqui Hanake cria uma atmosfera que faz o espectador também ser o agressor.Nisto reside o amadurecimento de sua filmografia e como resultado a tão merecida Palma de Ouro. Nas outras fitas o austríaco trabalha o distanciamento do publico frente a história,é quase impossível se identificar com Isabelle Huppert em A professora de Piano, com a dupla terrível de Funny Games, com a frieza do algóz em Caché nem com o clima hostil em Código Desconhecido,entretanto não são monstros,são seres humanos e é isto que Michael Hanake quer deixar muito claro em A Fita Branca. Não há nada diferente entre eles e nós.
Não é a toa que no longa existem tres persogens chaves, o médico, o pastor e o professor. Os dois primeiros são respeitadíssimos pela comunidade ( e em qual sociedade não o são?),já aquele que detém o conhecimento laico, o que pode operar mudanças naquele pequeno nucleo é fraco, um pouco ridicularizado e possui um sub-emprego, melhor ser alfaiate com o pai do que professor em uma vila. Existe também uma grande gama de personagens,muitos,o que faz com que num primeiro momento venha o questionamento se o roteiro acaba querendo abarcar tudo e não aprofunda em nada,mas o temor é logo dissipado pois todos são a massa obediente,sempre foram,sempre serão,seus filhos,seus netos, todos muito coretos aos olhos da rígida sociedade cristã protestante que não permite falhas,apenas virtudes,na qual tudo é transformado em pecado. É um filme duro neste sentido, a postura dos personagens é engessada como qualquer passo em falso fosse a própria condenação, os que saem do padrão são vistos com maus olhos e sumariamente castigados pelos misteriosos crimes que acometem a vila.Entretanto nem tudo é preto e branco na vida,como mostra a belíssima fotografia em p&b do longa que explora nuances de sombras, texturas da luz dando profundidade para algo que poderia ser facilmente chapado.
Onde entra o espectador? Michael Hanake quando do lançamento de A Fita Branca declarou que cinema era iludir e ele aprendeu bem com Eisenstein como conduzir seu filme. Ele trabalha bem o dilatamento do tempo em algumas cenas que um diálogo banal pode ser algo muito mais perigoso e faz com isso que o publico crie em sua cabeça a continuação da ação, normalmente o pensamento é sórdido, quando a cena se desenrola é sempre inofencivo e foi o espectador sentadinho em sua poltrona, que sempre teve horror dos personagens detestáveis de seus filmes,´quem imaginou pêlo em casca de ovo. O Protestantismo opera assim. A Sociede Cristã como um todo opera assim. Sempre o pecado,sempre o pior.
Somos todos monstros em potencial,não existem inocentes,literalmente.

domingo, 7 de março de 2010

A serious man

A filmografia dos irmãos Cohen é irregular,mas quando acertam, o fazem com gosto e este é o caso de A Serious Man. Em seus filmes o humor negro dá o tom e boas ações nunca são recompensadas,neste longa esta premissa será levada às ultimas consequencias. Os diretores exploram desta sua própria cultura, a judaica, de maneira hilária e nada condencedente.
Larry é um professor universitário que se vê no meio de um turbilhão profissional e pessoal, absolutamente tudo dá errado em sua vida, o que faria qualquer ser humano comum entrar em colapso e cometer algumas loucuras,mas não ele. Como um Jó contemporaneo ele "aceita" as agruras e continua tentando ao menos tocar a vida, e se no Antigo Testamento Deus devolve em dobro tudo que retirou do pobre fiel, aqui os Cohen cinicamente apontam que não há saída.
Além da boa exploração de planos,edição que criam efeito comico nas cenas mais banais, o casting e o trabalho de atores são expetaculares. Os irmãos criam tipos deliciosos que só a simples aparição já vale uma gargalhada. É a velha história de que ninguem pode tirar sarro de voce mais do que voce mesmo, e os dois mergulham fundo no "esteriótipo" judeu. Ponto também para a direção de arte e figurino que ajudam a compor toda a atmosfera do longa.
É uma pena saber que A Serious Man provavelmente saia de mãos abanando no Oscar 2010.

sábado, 6 de março de 2010

Amor sem Escalas

Amor sem Escalas concorre a 5 Oscars e é de se perguntar por que,pois não passa de um filme correto, com destaquepara o roteiro que talvez valesse a estatueta,não mais do que isso.
George Clooney é um executivo que tem como trabalho despedir pessoas de outras empresas,ele passa o ano viajando, sua casa sãos os hotéis que dorme,não possui família nem amigos, e gosta de sua vida assim. Ele terá de levar a tiracolo em suas andanças uma jovem executiva que planeja revolucionar seu ramo e se envolverá com uma mulher de negócios em transito assim como ele e de temperamento bem parecido. É uma história de relacionamentos,ou a falta deles,não no sentido amoroso,mas em escala maior, em como se importar com outro ser humano. Bons momentos do longa são as cenas em que vemos Clooney fazendo sua pequena mala,com nada a mais,nem nada a menos,apenas o necessário, e o acompanhamos pelos aeroportos numa edição ágil e precisa pontuando o clima do filme, de rotinas vazias e locais sem pessoalidade. A partir destes momentos podemos compreender o ponto de partida dos personagens que acompanharemos nesta história. O roteiro é cheio de nuances que possibilitam o profundamento da situação de trabalho e vida destas pessoas e como se comportam,entretanto o filme acaba por vezes se arrastando perdendo assim a vitalidade e não ajudando o desenvolver da trama.
É fácil de entender a comoção criada pelo longa nos EUA,o que talvez tenha o feito concorrer a tantos premios. O momento político passado pelo país permeia o filme. Milhares perderam seus empregos com a crise economica e com isto suas casas,seus planos de saude e o dinheiro para mandar seus filhos para a Universidade. A sociedade norte-americana ve o seu "american way of life" ir agua a baixo. Na história contada Clooney,sozinho e como meta de vida acumular milhas de viagem, é justamente aquele que viaja pelo país demitindo milhares pelo caminho, esta massa desempregada ganha voz e rosto nas histórias dos personagens descartados. Talvez seja um jeito de racionalizar e assim tentar entender a barbaridade do começo desta crise,quando enquanto muitos perdiam tudo que possuíam alguns altos executivos promoviam festas nababescas com os bonus extratosféricos ganhados das empresas que ajudaram a afundar. O estilo de vida americana parece dizer o filme não é apenas o self-made man,mas o espírito de solidariedade,família e comunidade.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Zumbilandia



Quem é fã do genero vai se decepcionar com o filme, afinal zumbies são apenas pretexto nesta comédia nonsense. O diretor bem que tentou se valer de nomes como de Jesse Eisenberg e Abigail Breslin para dar ao longa um ar mais cult,mas acaba esbarrando em cliches bobos e uma trama bem chatinha.

Depois que um vírus mortal se espalha pelo mundo através de um hamburguer infectado, quatro sobreviventes se encontram em uma rodovia : um caipira maluco, um nerd, e duas irmãs trambiqueiras. Cada um está indo para um lugar, por motivos variados, encontrar um bolinho de creme, rever os pais nunca próximos,se divertir num parque de diversões. Boa sacada do roteiro em ridicularizar os pretensos filmes sérios de zumbies,onde realmente não há um objetivo a não ser sobreviver claro, encontrando o local livre das criaturas.Entretanto existe um porém, a graça destes filmes está justamente na tensão que criam, um numero bem pequeno de pessoas tem de lutar por sua sobrevivencia com milhares de monstros famintos, ao primeiro arranhão se tornam um deles, qualquer lugar que se vá,lá estarão eles e a comida está acabando. O problema em satirizar tudo isto é cair no oposto,nada faz sentido, vamos aproveitar o momento e então os zumbies tornam-se mero detalhe e o espectador fica se perguntando por que é que estou assistindo a tudo isso. A história falha pelo excesso e por não explorar melhor as regras estabelecidas pelo garoto nerd que servem como um manual de sobrevivencia para qualquer filme de terror ( o filme começa utilizando bem este "toc" mas depois se perde pelo caminho).

Melhor esperar A Madrugada dos Mortos 2.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

500 Dia com Ela

No começo do filme o narrador diz que não se trata de uma história de amor. Bobagem. Não se trata de uma história de amor hollywoodiana, cheia de cliches,personagens perfeitos,happy end e trilha melosa. Neste romance indie temos dois personagens longe do ideal, um relacionamento fracassado e uma trilha arrasadora cheia de melancolia com The Smiths e os onipresentes,fofos porém muito cruéis Belle & Sebastian.
O filme conta o namoro que deu errado entre Tom, um garoto sensível, e Summer, uma garota que não gosta muito de se apaixonar. Quando eles se conhecem no trabalho podemos perceber que trata-se de uma tragédia anunciada, numa inversão de papéis, ele se apaixona perdidamente pela garota que parce ideal,pois compartilha os mesmos "gostos estranhos" - como sua irmã caçula diz- que ele, já ela só quer curtir, mas o garoto permanece com sua amada,talvez esperando o dia em que ela visse que ele era seu principe encantado.
O longa não segue uma narrativa linear, indo e vindo nestes 500 dias, nos mostrando Tom depressivo com o término intercalando com cenas do romance. É bem interessante como o diretor resolve cenicamente o clima do personagem através da luz e do figurino. Summer, está invariavelmente de azul ( blue em ingles pode ser triste) e Tom usa cores mais pastéis, quando leva o fora começa a usar roupas cada vez mais pesadas, ou tons ocres. A fotografia nos dias bons é sempre luminosa,ou amarela verão (summer) e vai esmaindo junto com o personagem.
A pessoa ideal muitas vezes pode não corresponder a realidade.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Onde vivem os monstros


O Oscar esnobou Onde vivem os monstros,uma pena porque é um belo filme ( não tão bom quanto os dois anteriores de Spike Jonze, Quero ser John Malcovich e Adaptação,mas muito bom).

Jonze tinha um desafio e tanto pela frente, transformar um livro infantil de 36 páginas em um longa...não infantil! E conseguiu. Alguns críticos discordam e acham o tom da fita ingenuo. Entretanto a história fala de inocencia e perda desta, é o mundo visto sob a ótica de um garotinho de oito anos.

Max é um menino solitário, sua mãe, divorciada, trabalha muito e sua irmã pré-adolescente não tem muita paciencia para suas brincadeiras. Ele resolve fugir , acaba numa ilha habitada por monstros e é coroado rei por estes. Ser soberano de um lugar implica em responsabilidades, em criar um ambiente perfeito para todos e Max vai descobrir que isto não é fácil.

Jonze através da belíssima fotografia imprime um tom poético ao filme, cria a idéia de que as coisas podem ser mais descomplicadas do que achamos, mas também através de planos frenéticos com camera na mão nos tira desse local idílico para nos mostrar o mundo frenético de um garoto de oito anos que quer tudo ao mesmo tempo agora e não tem noção das consequencias de seus atos. Assim o diretor cria um equilíbrio, que ao longo da história vemos o quão é dificil de manter. A incrível trilha de Karen O dos Yeah! Yeah! Yeah! vem para pontuar este clima, hora mais calma e mais instrumental,hora mais rock com seus famosos gritos.

Saímos do cinema com a impressão que tudo pode ser mais simples,mas também que mesmo adultos somos capazes de infantilidades que atingem os outros.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sherlock Holmes


Charming. É um bom adjetivo para Sherlock Holmes, entretanto não esperem o detetive mais famoso do mundo em casacas xadrez, com cachimbos extravagantes,lupas e ar aristocrático de quem passou talvez por Eton; não, este Holmes é sujo,desleixado, sarcástico,auto-destrutivo e arrogante quanto deve ser Sherlock. Ao seu lado temos o fiel Wattson,que de bobo não tem nada, este médico é esperto,rápido, o unico capaz de segurar as loucuras de seu amigo. Formam um dupla interessante porque neste filme o detetive não leva a melhor em cima do ex-combatente,não existe superioridade, ambos convivem como em simbiose, tão diferentes e ao mesmo tempo o mesmo lado da moeda. Holmes é mais impestuoso e preocupado consigo, Wattson é altruísta e ponderado,só que assim como o amigo tem vícios que não consegue se desvencilhar.
Guy Ritchie coloca seus personagens onde transita muito bem,no submundo, no suburbio,entre os operários,ladrões,trambiqueiros e toda sorte de gente sórdida. Londres mostrada na tela não é de modelo vitoriana,casta e pura, é suja e escura. Neste cenário Sherlock Homes e Dr Wattson tentarão deter o grande vilão,proveniente da aristocracia, que pretende tomar o governo do Reino Unido através da magia.
O filme é bastante ágil e divertido como deve ser um blockbuster,muitas cenas de ação são de tirar o folego e vemos Ritchie exercitar seu lado ironico,atraves de diálogos rápidos e afiados e boas composições de cenas. Ele dá espaço para que Robert Downey Jr e Jude Law criem a vontade e o resultado é visivel na tela. Talvez o unico ponto crítico sejam as explicações dadas por Holmes,a cada mistério desvendado o detetive explica ao seu interlocutor como chegou a tal dedução e acaba tornando a cena didática demais.
Guy Ritchie volta em grande forma depois do desestre de Destino Insólito,Robert Downey Jr confirma a boa fase ( levou ontem o globo de ouro de melhor ator de comedia) e Jude Law volta aos papéis interessantes.

sábado, 16 de janeiro de 2010

" A minha dança vem da lama" Kazuo Ohno.


Hanami em japonês signica contemplar flores e um festival onde os japoneses sentam-se em baixo de cerejeiras em flor para sua contemplação e confraternizam através de piquiniques. Ritual este muito fora da nossa realidade ocidental,onde mal temos tempo para olhar pela janela do carro,para nós mesmos; o que dirá então para cerejeiras (esta fruto simbólico da efemêridade da vida) ? É este mote que a diretora alemã Doris Dörri discute em seu recente filme Hanami, o tempo efêmero.

Os personagens Trudi e Rudi são casados há muitos anos e levam uma vida tranquila e cheia de rotina numa pequena vila alemã. Um dia Trudi descobre que seu marido está morrendo e prefere não contar ao esposo a terrível notícia dada pelos médicos. Decide então tirá-lo do marasmo em que vivem, leva-o à Berlim para visitar dois de seus três filhos. Entretanto a visita não é bem aceita por estes,que nunca tem tempo para os pais e nem querem se dar ao trabalho de realmente enxergá-los, a única pessoa disposta a ouví-los é a sensível namorada da filha,que os acompanha nos dias em Berlim. A diretora apresenta assim a visão européia de vida, onde a contemplação, o viver em si não possuem espaço e os mais velhos,com outro ritmo e dinâmica,são vistos como um fardo. Através de um fato inesperado, a morte repentina de Trudi, a história muda completamente de rumo e vemos Rudi em direção ao Japão em busca do sonho da mulher, ex dançarina de Butoh, ver o monte Fuji.

Em Tokyo Doris cria um ponto de tensão entre o Ocidente representado pelo terceiro filho do casal,executivo bem sucedido morando em um dos minusculos apartamentos japones,e o Oriente representado por uma jovem dançarina de Butoh que Rudi conhece no parque, alegre,colorida,e misteriosa. A belíssima fotografia do filme empresta tom poético à narrativa, a contemplação das pequenas coisas que não nos lembramos de olhar no nosso dia-dia, o silencio presente fortemente nesta mudança de cenário é um convite a escuta do cotidiano.

Apesar de o filme ir para vertente mais melodramática, a crueldade dos próprios filhos intransigentes para com os pais face a sensibilidade e generosidade de duas estranhas que souberam olhar para o casal, não acaba comprometendo a história,transformando-a em piegas pois a discussão entre morte/ vida, efemeridade do tempo é o que dá o tom e somos convidados a uma bela reflexão sobre nosso ponto de vista sobre estes conceitos. Não é a toa que o Butoh permeia a narrativa, a morte, o terrível,as trevas, o grotesco possuem sua beleza, a beleza da feiuria, das coisas que prefiriríamos não ver.

Destaque para participação especial de Tadashi Endo com cenas do belíssimo espetáculo apresentado aqui no Brasil em 2007 no SESC Santo André.