sexta-feira, 19 de março de 2010

A Fita Branca

O homem não é bom. Esta é a premissa de Michael Hanake em todos os seus filmes,não seria diferente em A Fita Branca. Numa pequena comunidade protestante alemã pré-primeira guerra crimes sórdidos acontecem sem que a população descubra os culpados. Se nos outros longas do diretor assistíamos estarrecidos a violencia brutal cometida pelos personagens,aqui Hanake cria uma atmosfera que faz o espectador também ser o agressor.Nisto reside o amadurecimento de sua filmografia e como resultado a tão merecida Palma de Ouro. Nas outras fitas o austríaco trabalha o distanciamento do publico frente a história,é quase impossível se identificar com Isabelle Huppert em A professora de Piano, com a dupla terrível de Funny Games, com a frieza do algóz em Caché nem com o clima hostil em Código Desconhecido,entretanto não são monstros,são seres humanos e é isto que Michael Hanake quer deixar muito claro em A Fita Branca. Não há nada diferente entre eles e nós.
Não é a toa que no longa existem tres persogens chaves, o médico, o pastor e o professor. Os dois primeiros são respeitadíssimos pela comunidade ( e em qual sociedade não o são?),já aquele que detém o conhecimento laico, o que pode operar mudanças naquele pequeno nucleo é fraco, um pouco ridicularizado e possui um sub-emprego, melhor ser alfaiate com o pai do que professor em uma vila. Existe também uma grande gama de personagens,muitos,o que faz com que num primeiro momento venha o questionamento se o roteiro acaba querendo abarcar tudo e não aprofunda em nada,mas o temor é logo dissipado pois todos são a massa obediente,sempre foram,sempre serão,seus filhos,seus netos, todos muito coretos aos olhos da rígida sociedade cristã protestante que não permite falhas,apenas virtudes,na qual tudo é transformado em pecado. É um filme duro neste sentido, a postura dos personagens é engessada como qualquer passo em falso fosse a própria condenação, os que saem do padrão são vistos com maus olhos e sumariamente castigados pelos misteriosos crimes que acometem a vila.Entretanto nem tudo é preto e branco na vida,como mostra a belíssima fotografia em p&b do longa que explora nuances de sombras, texturas da luz dando profundidade para algo que poderia ser facilmente chapado.
Onde entra o espectador? Michael Hanake quando do lançamento de A Fita Branca declarou que cinema era iludir e ele aprendeu bem com Eisenstein como conduzir seu filme. Ele trabalha bem o dilatamento do tempo em algumas cenas que um diálogo banal pode ser algo muito mais perigoso e faz com isso que o publico crie em sua cabeça a continuação da ação, normalmente o pensamento é sórdido, quando a cena se desenrola é sempre inofencivo e foi o espectador sentadinho em sua poltrona, que sempre teve horror dos personagens detestáveis de seus filmes,´quem imaginou pêlo em casca de ovo. O Protestantismo opera assim. A Sociede Cristã como um todo opera assim. Sempre o pecado,sempre o pior.
Somos todos monstros em potencial,não existem inocentes,literalmente.

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