sábado, 16 de janeiro de 2010

" A minha dança vem da lama" Kazuo Ohno.


Hanami em japonês signica contemplar flores e um festival onde os japoneses sentam-se em baixo de cerejeiras em flor para sua contemplação e confraternizam através de piquiniques. Ritual este muito fora da nossa realidade ocidental,onde mal temos tempo para olhar pela janela do carro,para nós mesmos; o que dirá então para cerejeiras (esta fruto simbólico da efemêridade da vida) ? É este mote que a diretora alemã Doris Dörri discute em seu recente filme Hanami, o tempo efêmero.

Os personagens Trudi e Rudi são casados há muitos anos e levam uma vida tranquila e cheia de rotina numa pequena vila alemã. Um dia Trudi descobre que seu marido está morrendo e prefere não contar ao esposo a terrível notícia dada pelos médicos. Decide então tirá-lo do marasmo em que vivem, leva-o à Berlim para visitar dois de seus três filhos. Entretanto a visita não é bem aceita por estes,que nunca tem tempo para os pais e nem querem se dar ao trabalho de realmente enxergá-los, a única pessoa disposta a ouví-los é a sensível namorada da filha,que os acompanha nos dias em Berlim. A diretora apresenta assim a visão européia de vida, onde a contemplação, o viver em si não possuem espaço e os mais velhos,com outro ritmo e dinâmica,são vistos como um fardo. Através de um fato inesperado, a morte repentina de Trudi, a história muda completamente de rumo e vemos Rudi em direção ao Japão em busca do sonho da mulher, ex dançarina de Butoh, ver o monte Fuji.

Em Tokyo Doris cria um ponto de tensão entre o Ocidente representado pelo terceiro filho do casal,executivo bem sucedido morando em um dos minusculos apartamentos japones,e o Oriente representado por uma jovem dançarina de Butoh que Rudi conhece no parque, alegre,colorida,e misteriosa. A belíssima fotografia do filme empresta tom poético à narrativa, a contemplação das pequenas coisas que não nos lembramos de olhar no nosso dia-dia, o silencio presente fortemente nesta mudança de cenário é um convite a escuta do cotidiano.

Apesar de o filme ir para vertente mais melodramática, a crueldade dos próprios filhos intransigentes para com os pais face a sensibilidade e generosidade de duas estranhas que souberam olhar para o casal, não acaba comprometendo a história,transformando-a em piegas pois a discussão entre morte/ vida, efemeridade do tempo é o que dá o tom e somos convidados a uma bela reflexão sobre nosso ponto de vista sobre estes conceitos. Não é a toa que o Butoh permeia a narrativa, a morte, o terrível,as trevas, o grotesco possuem sua beleza, a beleza da feiuria, das coisas que prefiriríamos não ver.

Destaque para participação especial de Tadashi Endo com cenas do belíssimo espetáculo apresentado aqui no Brasil em 2007 no SESC Santo André.

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