sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2


O que faz o herói?O que é preciso?Qual a diferença entre ele e a humanidade em geral?Eu poderia citar alguns teóricos,entre eles Campbell,falar da Arete,entretanto tio Ben ainda possui a melhor definição : "with great power comes great responsability". Grande responsabilidade...um artista não deve ficar preso a regras da sociedade,ele deve provocar, abalar de alguma maneira nossa visão de mundo,pode ser através de um soco no estômago,ou através da delicadeza,todavia ele não deve ser irresponsável. Padilha é irresponsável com Tropa de Elite 2. Pode-se argumentar que trata-se de ficção e não realidade,como uma revista cultural o fez quando do lançamento do primeiro, o comparando com Cobra,filme trash de Stalonne,oras só alguém muito ingênuo acharia que a industria cinematográfica norte-americana não possui uma ideologia!No caso,o americano médio,o homem comum com garra e vontade,aquele mesmo que construiu a nação.No caso brasileiro...temos todo o cinema viuvo do cinema novo,do cinema verdade da favela e sertão,preocupado em retratar as mazelas do povo,40 anos depois voltar no mesmo cenário,valendo-se da miséria mas discursar sobre ficçao e nada além disto é leviano!
Tropa de Elite é a ficçao no momento em que carrega nas tintas,quando constrói o cliche e chapa o conflito,e é problemático também pelos mesmos motivos.
Não estamos mais na favela apenas,no problema do tráfico e usuário, o foco é o sistema,a corrupção generalizada,introjetada na sociedade brasileira,todos os políticos são corruptos,ninguém presta, a esquerda é imbecil e ingênua por achar que ainda é possível sonhar com um mundo melhor veja só através do diálogo e do gesto democrático de eleições ( uma mudança de foco sem duvidas sobre uma visão estereotipada de barbudo comedor de criancinha,agora são todos paz e amor).
Não existe saída,mas eis que temos sim a solução,o herói caído,o herói que completa sua trajetória trágica,que se despoja dele mesmo para um bem maior e sendo assim questiona como Cristo na Cruz "Deus por que me abandonaste?":Capitão Nascimento. Neste capitulo ele sofre,pois sua família é colocada em xeque,sua corporação,sua fé,sua convicção,mas ele termina de pé,mesmo que abalado.
O longa é irresponsável no momento em que a política nao se apresenta como alternativa viável,o coronel do BOPE e seu batalhão são as únicas coisas prestáveis capazes de resolver a situação nacional, mas operando fora do sistema,não seguindo hierarquia,não seguindo as diretrizes governamentais pois tudo é podre.Um filme de ação razoável,se não tivessemos no país uma situação tão delicada como temos em termos políticos : corrupção de norte a sul e impunidade.Ela é real,e está aí por conta do sistema e do povo não politizado. Ao fazer Nascimento o paladino da virtude estamos abrindo brecha para algo assustador,um messias que venha nos salvar de nós mesmos.Exagero?Não,quando boa parte da sala vibra aplaudindo e gritando o murro que o capitão/coronel dá em um politico corrupto.Momento de catarse total e bem,já diria Bretch que conscientização e catarse não andam juntas.
O longa rende boas discussões éticas,politicas sobre nossa realidade para aqueles que vão assisti-los com olhar distanciado,mas quantos aceitam o personagem como um herói a ser achado na vida real?O golpe,Hitler,entre muitos outros episódios estão aí para provar.
A História acontece como tragédia e se repete como farsa,e estamos sempre atrás de príncipes,meus irmãos!

3 comentários:

  1. Não assisti o filme ainda. Mas parabéns pelo texto! E tio Ben não deixa nada a dever!

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  2. Discordo completamente de sua opnião: se notar com atenção a violência, que o Cap. Nascimento justificava como meio válido de resolver o problema no primeiro filme e no início deste segundo, é deixada de lado e criticada pelo próprio quando ele em seu depoimento confessa (inclusive diante de seu pacifista rival) não saber pq faz o que faz. A cena evidencia que o personagem está amadurecido e ciente de que o problema, pela sua própria complexidade, não é algo que vá se resolver apenas com bordoada. É necessário lembrar que, o primeiro nêmesis de Nascimento (o Baiano, no primeiro filme) é derrotado na cena final a margem da lei: com aquela execução sumária. Mas seus nêmesis neste segundo (os políticos) são enfrentados na cena final através das ferramentas democráticas comuns (com um simples depoimento) e alguns, como o apresentador de TV, diante disto caem, e a grande maioria não. Não ter visto esta mudança de foco e acusar por consequência o filme de irresponsavel, é perder a interpretação do texto.

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  3. No primeiro filme com a execução de Baiano Matias ganha a confiança total do chefe,o herói. No segundo,qual realmente o poder dos instrumentos democráticos,no momento em que temos o conselho de Ética,escrito em letras garrafais,presidido por um dos maiores bandidos do filme,e o deputado honesto com Quixote que apesar das boas intenções não consegue derrotar a corja?

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