sábado, 26 de setembro de 2009

XI Festival Internacional de Cinema do Rio


Estreando praticamente em matéria de blog a convite da querida Malu que, sei lá por que diabos, me viu como interlocutora nessa área, mas enfim, agradeço publicamente a confiança e espero não ser preguiçosa e conseguir escrever algumas coisinhas, como críticas, opiniões, resenhas e afins, tentando estabelecer algum diálogo sobre o mundo apaixonante da dita sétima arte. Vou começar com um texto escrito em primeira pessoa, já que não sou nem pretendo ser nenhuma assumidade no assunto, a princípio quero registrar impressões sobre as obras e mesmo treinar a danada da escrita em termos de crítica, que é sempre um exercício para os que estão, de certa forma, ligados ao mundo cinematográfico, mesmo que seja na teoria.

De início, como a própria Malu disse: farei as vezes de uma espécie de “correspondente” do blog no Rio, vou tentar falar um pouco do Festival de Cinema que está acontecendo agora, lembrando que nesse primeiro texto meu objetivo é mais oferecer um panorama do que tenho visto (que é bem pouco, tendo em vista a diversidade e quantidade de opções), do que propriamente uma crítica ou resenha de filmes.
Aliás, só ficarei aqui, infelizmente diga-se de passagem, nos quatro primeiros dias do festival (perderei boa parte do burburinho da recepção aos filmes), enfim, acho que nestes poucos e intensos dias, conseguirei ter uma amostra do que está por vir e que talvez não veremos na Mostra de São Paulo em novembro próximo.
O Festival do Rio teve início na última quinta (24/09), com sessão exclusiva para convidados do aguardado filme novo de Ang Lee (pra quem não conhece, o mesmo diretor de Broke back Mountain) “Aconteceu em Woodstock.”, já com ingressos esgotados para todas as sessões. Os que se adiantaram em horas de filas, já garantiram seu ingresso para ver o tão aguardadíssimo “Bastardos inglórios”, que marca o retorno de Tarantino, além de outros grandes como a nova trama de Almodóvar “Abraços partidos”, que traz mais uma vez Penélope Cruz como protagonista; a segunda parte do filme “Che” (que teve sessão completa na última versão da Mostra de SP), além do francês “Coco antes de Chanel”, que entrará em cartaz nas próximas semanas.
Bem, fazendo a autocrítica agora: não sei se sou a mais indicada para ser “correspondente” em festivais, pois não me comporto como tal, já que particularmente não procuro ver aos filmes mais aguardados, dos diretores reconhecidos e tudo mais, embora confesso que a curiosidade esteja me matando, não tenho lá muita paciência para aguardar horas em uma fila para provavelmente não conseguir ver o filme que, com certeza, dentro de algum tempo entrará em cartaz no circuito. Prefiro mesmo “correr por fora” e descobrir raridades e surpresas (às vezes péssimas, claro) e ver aqueles filmes de diretores e países que nunca mais tomarei contato novamente ou mesmo que anos depois alguém descobre a genialidade da obra - já tive experiências incríveis em mostras anteriores, que valeram muito na minha formação como espectadora de cinema.
Essa semana de estadia no Rio foi complicada em termos de cinema... Para além dos meus assuntos particulares que me trouxeram à cidade, tentei aproveitar o circuito local (atentando para o fato de que, como boa paulista trouxe minha nuvenzinha de chuva, o que adensou minha vontade de permanecer no interior das salas de cinema!). Complicada digo no bom sentido do termo, mas angustiante pela diversidade de opções, só para citar: Mostra de cinema argentino no CCBB (que tentei ver os que não consegui em SP); Recine (mostra organizada pelo Arquivo Nacional voltada a filmes de arquivo), que esse ano homenageou a Era do Rádio; uma mostra da Caixa Cultural (uma boa surpresa, que não irá ao circuito paulista tão logo) chamada de “Primeiros olhares”, que mostrou os primeiros longas de 12 importantes diretores contemporâneos, como Wong Kar-Wai, Gus Van Sant, Lars Von Trier, Beto Brant, entre outros.
E finalmente o Festival do Rio, com mais de 300 opções, que estão me deixando louca! E pra piorar, o sol finalmente chegou à cidade e a praia é sempre uma alternativa tentadora... Mas isso não vem ao caso, o que importa agora é falar de cinema! Ontem (sexta) começou a mostra para o grande público, do qual faço parte. Comecei a maratona com três filmes...
Ainda estou triste por não ter conseguido o ingresso para ver o novo da maravilhosa Agnes Vardá, com o precioso detalhe de que a sessão contou com a presença da própria (!), chamado “As praias de Agnes”, que espero ainda ter a oportunidade de assisti-lo antes de pegar o vôo de volta ao frio... Enquanto me remoia, decidi assistir aos documentários que estavam passando no CCJ, na Cinelândia mesmo, o mote eram filmes estrangeiros que olham o Brasil e lá fui com um pé atrás ver as denúncias políticas que tanto estamos acostumados...
Comecei com “Parajuru”, um documentário de José Huerta, brasileiro que vive no exterior, mostra uma comunidade pesqueira no litoral do Ceará, que sofre a especulação imobiliária de uma rica austríaca, que aos poucos tenta minar a cultura do lugar... Na seqüência tivemos “O Areal”, do chileno Sebastian Sepulveda que, por sua vez, filma uma comunidade remanescente de quilombolas na Amazônia, com todas suas tradições e cosmologia, num enredo envolvente neste aspecto e que no fim somos surpreendidos por uma virada na narrativa onde a comunidade entra num “embate” com a chegada do “progresso” e extração de areia no local. Esse último contou com a presença do diretor, que debateu com o público a construção e resultados da filmagem. Os dois filmes colocados em seqüência trouxe reflexões mais de cunho político que de construção de uma linguagem de documentário, o primeiro com uma tese mais esclarecida, em que o contato com esse estrangeiro predador tiraria a cultura do local e o segundo buscando uma forma mais subjetiva de colocar essa questão, interessante analisar duas formas de abordagem para a mesma problemática política de exploração do país, utilizando-se do cinema como arma de combate e denúncia.
Saindo do campo da não-ficção, mergulhei numa ficção do também chileno Sebastian Leilo, chamada “Navidad”, que conta a história de três adolescentes que passam a noite de natal juntos em uma casa de campo abandonada, que pertenceu à família de uma das personagens. Tendo sido financiado pela fundação de Cannes que dá recursos a diretores escolhidos em diversas partes do mundo e sendo parte da quinzena dos realizadores do mesmo festival, foi bem filmado, com uma bela fotografia que soube aproveitar do cenário da casa, porém, o que poderia ter resultado em uma boa trama, me pareceu morno e até abusando de certos clichês narrativos, como o óbvio triangulo amoroso entre as personagens, sendo a princípio um casal em crise e uma adolescente que aparece na casa após uma fuga de casa... Saí com um pouquinho de frustração pelo roteiro, esperava mais.
Por enquanto, esse é o resumo bem básico e raso do meu primeiro dia no Festival de cinema do Rio, espero poder escrever algo mais aprofundado quando voltar à rotina paulista e com um maior distanciamento aprofundar minhas questões sobre os filmes vistos aqui.

Um comentário:

  1. bem-vinda querida!
    E Festival bom,é festival onde se vê os "rejeitados". Mostra é boa para garimpar e que delicia esse monte de filmes ao mesmo tempo!

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